O Espectador Emancipado

obra de luiz gonzales palma, 2007
obra de luiz gonzales palma, 2007

Neste texto fundamental Jacques Ranciére discute o teatro na contemporaneidade. Ao pensar as artes cênicas no contexto da sociedade do espetáculo, o filósofo lança uma análise que de certo modo se encaixa nas artes plásticas.

Qual é a essência do espetáculo na teoria de Guy Debord? É a externalidade. O espetáculo é o reino da visão. Visão significa externalidade. Agora, externalidade significa a desapropriação do próprio ser de uma pessoa. “Quanto mais um homem contempla, menos ele é”, diz Debord. Isto pode soar antiplatônico. É claro que a principal fonte para a crítica do espetáculo é a crítica da religião de Feuerbach. É o que sustenta aquela crítica – a saber, a idéia romântica da verdade como inseparabilidade. Mas esta própria idéia se mantém de acordo com o descrédito platônico quanto à imagem mimética. A contemplação que Debord denuncia é a contemplação teatral ou mimética, a contemplação do sofrimento provocado pela divisão. “A separação é o alfa e o ômega do espetáculo”, escreve. Aquilo que o homem contempla neste esquema é a atividade que lhe foi roubada; é a sua própria essência que lhe foi arrancada, que se tornou alheia, hostil a ele, que consente com um mundo coletivo cuja realidade não é nada além da desapropriação mesma do homem.

Tradução de Daniele Avila para a revista digital de assuntos do teatro Questão de Crítica:

http://www.questaodecritica.com.br/2008/05/o-espectador-emancipado/

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