INTERNACIONALIZAÇÃO DA ARTE BRASILEIRA A PARTIR DOS ANOS 80 E A CONSTRUÇÃO DE HÉLIO OITICICA E LYGIA CLARK COMO REFERENCIAIS CANÔNICOS DESSA PRODUÇÃO ARTÃSTICA.
“After the Future” is a research and exhibition project wich included a Seminar, courses and an exhibition with an emergency feature, prepared in Olympic proportions times of crisis in the context of Rio de Janeiro and Brazil. The show presents works which deals with the institutional failure and political vacuum that dominate the Brazilian present, and the Latin American reality, fulled of brutality and injustice since colonization. At the same time, there are proposals that consider issues such as new models of coexistence, cooperation, creation and subsistence, the same as today emerge around the planet in non-partisan and mobilizing cells of civil society. The art is placed thus as sensitive tool for a critical perception of the world, informing, educating and enabling to dream with futures that cannot come later.
Daniela Labra | Curadora visitante EAV Parque Lage/ Visitor curator at Parque Lage Visual Arts School
Optando por uma abordagem abrangente e evitando clichês, a curadoria se distanciou tanto de discursos anacrônicos em defesa da idealizada “FamÃlia Tradicional”, como de bandeiras acerca de um suposto núcleo familiar politicamente correto. Em geral os trabalhos contam traumas, acontecimentos e decisões que marcaram vidas de sujeitos comuns, no mundo como nós, a quem não devemos cobrar explicações morais. Assim, não só de famÃlia fala a exposição, mas de memórias afetivas, ausências, paixões, abusos, fragmentações, distância e cumplicidade, entre outros assuntos tão complexos como delicados que formam os enredos de todas as existências e vÃnculos afetivos humanos.
Dos brasileiros há veteranos como Anna Bella Geiger, com três obras entre 1974 e 2014 que indagam sobre diáspora, famÃlia, cultura e identidade, e mais jovens como o paulista Fabio Morais, cuja obra dialoga com a forma literária para inventar memórias, e Jonathas de Andrade com seus temas ligados ao povo do nordeste, sua história de lutas e tradições. Ao todos são nove brasileiros incluindo Rosangela Rennó, Ricardo Basbaum e Adriana Varejão, esta com “Em segredo” (2003), uma grande peça pintada em tela e resina que soa algo literal e destoa dos suportes “frios” da maioria dos trabalhos de aspecto tecnológico, mas que no entanto contribui bem ao tocar no tabu do aborto que envolve famÃlias, corpos femininos em risco, escolhas, perdas e amor.
Ali o visitante se depara com a imensidão do local, ocupado ao centro por uma piscina de superfÃcie azul metálica que se abre no chão negro e profundo. Em suas bordas, outro personagem nos fita: uma Marilyn Monroe com o olhar experiente de quem pôde envelhecer, encarnada de novo por Dominique, mulher de 50 anos apaixonada por literatura e escrita. Considerando esse interesse, pode-se interpretar seus ready-mades, intervenções arquiteônicas e objetos como capÃtulos de ficções plasmadas em arte visual, fundidas na materialidade do mundo.
Mais que ironia, o cinismo talvez seja o tom que amarra a individual de Gustavo Speridião, e isso fica claro quando, no segundo andar da burguesa galeria, nos deparamos com a imensa tela com o dizer “Maldita Burguesiaâ€. Do lado de fora, no terraço com vista para a Lagoa, um conteiner vermelho do estabelecimento exibe o único vÃdeo da exposição. Trata-se de um documentário das manifestações de 2013, com trilha sonora de punk-rock e hardcore, onde se assistem cenas cruas da emoção de manifestantes ainda não polarizados entre o azul e o vermelho, entremeadas por momentos absurdos de violência do estado em resposta à raiva explosiva de jovens irados contra tanta corrupção, mentiras do poder público e intrusões do capital privado no cotidiano.