Comentário sobre o Panorama

Este texto foi gentilmente enviado por Traplev para a publicação no Artesquema.

A DISFUNÇÃO DO PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA
OU O DES-PANORAMA EM ACLIMAÇÃO
(E COMENTÁRIOS DO BLOG DO CANAL CONTEMPORÂNEO)

(publicado também em versão espanhol http://esferapublica.org/nfblog/?p=1893 )

Roberto Moreira Junior
(Traplev)

Quando li a reportagem na Folha de SP, também lembrei como referência, sobre a indicação na Alemanha do artista inglês Liam Gillick para a Bienal de Veneza deste ano. Mas o interessante em ler a reportagem e depois ler os comentários no blog do canal contemporâneo (http://www.canalcontemporaneo.art.br/brasa/archives/002119.html), foi sentir tanta inflamação.
Não creio que o contexto seja de “desrespeito para com os artistas brasileiros em pleno tempo de expansão” como escrito em um post no blog do Canal, para mim essa proposta de Adriano Pedrosa soa mais como uma “armadilha estética” (não duchampiana!), do que um desrespeito a produção de arte brasileira.
Adriano Pedrosa, não é o único a polemizar o Panorama da Arte Brasileira que acontece no MAM de São Paulo desde 1969. Depois do Panorama de 2001 (com curadoria de Ricardo Basbaum, Ricardo Resende e Paulo Reis) todos os Panoramas que se prosseguiram nunca mais tiveram o mesmo impacto dentro do circuito de arte institucional e informal no Brasil.
Com a “polêmica-interna” que gerou a referida exposição em 2001 (uma “crise” no bom sentido), que na minha opinião, foi uma das melhores curadorias com o nome de Panorama da Arte Brasileira da última década, porque justamente estavam focados com o que estava ocorrendo na época, despontando outras práticas artísticas que não somente esse circulo de “visibilidade brasileira” e não se preocupando apenas em paradigmas e circuitos de mercado. (E nesse sentido a publicação – não catálogo – editada por Ana Paula Cohen, e a entrevista com Artur Barrio reforçaram a proposta justamente reafirmando outras práticas não padronizadas pela Instituição Museológica e o “Catálogo de Exposição”).
As outras tentativas partindo do talvez primeiro DES-Panorama do G. Mosquera começaram a decair e não conseguiram mais encontrar o sentido de se fazer este evento que comemora seus 40 anos em 2009. Ainda entre os Panoramas internacionais (Mosquera em 2003 e Pedrosa em 2009), teve a Curadoria de Felipe Chaimovich que ainda se preocupou em pesquisar por muitos estados do Brasil (in-situ), o que se produzia na época. Concordo também com o post (do link acima) de Juliana Burigo, Ligia Borba e Guy Amado, que simplesmente poderia se resolver o problema promovendo uma curadoria que não exatamente o tal “Panorama nanannnann”.
Também soa interessante essa indignação pela proposta de Adriano Pedrosa, pois justamente evidencia um problema maior que está por trás de tudo isso e que de alguma forma passa despercebido – a posição do MAM-SP que aceita tal proposta para o evento bienal de nome Panorama da Arte Brasileira.
Creio que essa coisa de utilizar o evento (pelo menos nos últimos 8 anos) que acontece desde 1969 até hoje com propostas querendo “renovar” o panorama da arte brasileira com artistas internacionais, é claramente um problema de Identidade da própria Instituição. Penso que os próprios diretores-presidentes e ou conselheiros, curadores do MAM-SP ou quem é que seja que administra essas “chamadas conceituais” para o Panorama, (como tb já dizia outro post), que deveriam responder por essa crise de identidade.
E ainda se falar que Programa de Residência é uma inovação (!), também não cabe mais nesses discursos. Nesse sentido concordo com Marco Paulo Rolla entre outros comentários, de propor realmente uma virada de conceito do que significa ainda hoje realizar um Panorama da Arte Brasileira no Brasil.
A emergência de se rever, discutir, questionar, esvaziar e modificar os princípios e sentidos de eventos como o Panorama, Bienal, Salões e etc, são essenciais.

As opções de atualização são infinitas, porque mesmo não pensar em programas de comissionamento a trabalhos, fomentando a produção de artistas brasileiros (neste sentido diga-se de alto e bom tom, não apenas os “artistas do mercado brasileiro”) para as edições bienais do Panorama (???).
Nesse sentido o projeto de Adriano Pedrosa realmente poderia ter outro contexto para refletir sobre o que ele propõe, não precisaria necessariamente evidenciar-se e aproveitar-se da “melodia institucional” em se intitular de Panorama da Arte Brasileira. Concordo também sobre as opiniões que se colocam sobre o questionamento do que é arte brasileira internacional por Daniela Labra: “É arte brasileira com penas de arara (Tropicália) ou arte brasileira com cara de Robert Morris?”, realmente essas confusões de continentes e nacionalismos são paradigmas delicados e a proposta como esta de Adriano Pedrosa (de se fazer o Panorama da Arte Brasileira Européia), ou mesmo esse último “Manifesto” de Bourriaud que tenta pensar outros paradigmas da arte sobre pontos de vistas duvidosos ao se falar generalizando, colocam em xeque e ás vezes impõe princípios conceituais e ações de curadores que não correspondem com situações específicas (“time specific X site specific” [!]) de circuitos diversos.

Desde a saída (emergencial combinada) de Ivo Mesquita e sua equipe, da direção do MAM-SP(-ITAÙ) de 2001, o Panorama da Arte Brasileira “balança”.
Porque não se comentou a curadoria do Panorama “Contraditório”[!] de Moacir dos Anjos, que na pouca informação, crítica e comentários que busquei nada diziam de tão inflamante como este..(!?) Neste ano da Curadoria do Moacir, tentei procurar várias vezes (google, canal, mapa, etc, etc, etc..) informações de pelo menos quem foram os artistas selecionados (!) e nem na página do próprio MAM-SP tinha o nome dos artistas!!!, mas quando vi uma parte de nomes tão conhecidos da “arte brasileira para exportação” (com a sequência da parceria para a ARCO de Galerias Brasileiras & Governo Federal, etc, etc, etc), perdia o interesse, porque para um sentido de PANORAMA, se desviava de um dado foco, se perdia a atenção de algo a mais do que vemos no mercado ou somente daquilo que circula nesse meio.

A situação que vemos da proposta de curadoria de Adriano Pedrosa, é um problema claro e evidente de uma necessidade das Instituições no Brasil, (seja do evento de nome Panorama da Arte Brasileira, seja do MAM-SP, seja da Fundação Bienal de SP, do MUBE, do MAM-RIO, do MASC, do MAC-PR, entre qualquer outro), de rever ações e operacionalizar de um modo coerente as demandas dos artistas e do público para a nova década que surge.
E nesse sentido, quando há uma brecha como esta da edição do Panorama da Arte Brasileira (de Europeus, como já citado) de 2009 ser realizado, perde-se uma oportunidade rica de investigar a produção artística do Brasil, sobre óticas e iniciativas ainda a serem desenvolvidas em suas diferentes re-adaptações e formatos (conceituais e administrativa).
O problema de mexer com essas iniciativas, é o grau de visibilidade que está contido nelas, pois essa “febre de status” (de artistas e curadores), muitas vezes desvia o contexto de se pensar a produção de arte brasileira.

Nesse sentido, falando neste contexto de DES-PANORAMAS, uma das (infinitas) questões Institucionais seria: como atuar sobre essas “plataformas de visibilidade” expandindo o formato e conceito de entre alguns Salões, Editais, Programas de Exposições, Panoramas e ou Bienais etc, etc, etc, etc, etc etc, etc (7vezes) ???

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