“Cervejaria em Santo Cristo? Torres de cinquenta andares? É a zona portuária (do Rio) bombando”.

Este mês de agosto o cenário de revitalização midiática da cidade do Rio de Janeiro foi confrontado com uma situação inesperada que ganhou manchetes e gerou uma intensa mobilização de setores da área cultural. Uma fábrica de chocolates desativada na zona do Santo Cristo, próxima ao porto, que estava sendo transformada em cluster cultural independente, foi leiloada e seus ocupantes (inquilinos), foram notificados a deixar o prédio. No entanto, nada ainda é definitivo e a situação permanece um impasse.

Diante do discurso oficial que aponta a arte e a cultura como pilares para uma revitalização urbana – mas que tem se mostrado extremamente midiático – o ocorrido trouxe à tona uma discussão maior: o da fragilidade das políticas culturais e da virulência com que planos urbanísticos estão sendo traçados com pouca ou nenhuma consulta pública.

O Rio Olímpico é a justificativa para investimentos gigantescos e especulação voraz que está deixando a população à margem. E nesse panorama a Cidade Maravilhosa virou uma das mais caras do mundo, sem que o carioca consiga entender por que.

Para incitar a reflexão ainda mais compartilho e indico aqui um texto preciso e claro:

O Caso Bhering, ou Especulação Imobiliária e a Lógica da Chantagem

[Sérgio Bruno Martins]

Duas notícias da maior importância colocaram em pauta, na última semana, a zona portuária carioca. A primeira fala da Bhering, antiga fábrica de doces no Santo Cristo que abriga um relevante conjunto de ateliês de artistas e outros criadores, bem como algumas pequenas empresas (todos pagando seus devidos aluguéis, diga-se). Por conta de dívidas com a União, o imóvel histórico foi leiloado e arrematado por um valor pífio. Os inquilinos rapidamente receberam ordens de despejo: trinta dias para sair, e contando. Um dos novos proprietários, dono de uma cervejaria em Teresópolis, diz reconhecer a vocação cultural do prédio. O problema é o que exatamente ele entende por ‘cultura’: um restaurante da cervejaria e uma série de ‘artesãos’ selecionados pela empresa, pagando aluguéis reajustados. Ou ainda, em suas próprias palavras: ‘Meu interesse é gerar dinheiro, sou um empresário.’ Sem dúvida, esse também é o interesse de Donald Trump, protagonista da segunda notícia. Consta que o magnata pretende construir seis torres de cinquenta andares na Leopoldina, completas com lojas no térreo e praça de alimentação. Basta juntar os pontos para perceber que a zona portuária está caminhando menos na direção de corredor histórico e cultural e mais para corredor de shopping center. No processo, história e cultura tornam-se meras palavras soltas em prospectos imobiliários.

CONTINUA  EM   http://revistapittacos.org/2012/07/31/o-caso-bhering-ou-especulacao-imobiliaria-e-a-logica-da-chantagem/

E agora com a palavra, a artista

Apesar do episódio da censura de Nan Goldin no Rio de Janeiro ter acalmado, as palavras da artista refletem sobre um mundo em desvio para a direita, apoiado por muito capital. E a arte? Parece que lhe estão impondo que se adeque às regras…

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Fotógrafa Nan Goldin, que teve mostra vetada pelo Oi Futuro, no Rio, fala sobre os limites da arte e o perigo representado pela ingerência do mercado no que é exibido
30 de novembro de 2011 | 20h 22

Roberta Pennafort/RIO

A fotógrafa norte-americana Nan Goldin já não sabe mais se vem ao Brasil no início de 2012 para aquela que será sua maior exposição por aqui. Está chocada com o veto do Oi Futuro, instituição que patrocina a mostra (agora transferida para o Museu de Arte Moderna da cidade), a fotos que mostram crianças “num ambiente acolhedor e amoroso” e que integram sua famosa série “A Balada da Dependência Sexual”, iniciada em 1976.

Nan Goldin disse estar chocada com o veto do Oi Futuro. A polêmica, reverberada por artistas e críticos no Facebook, se centrou nas imagens de crianças na cama com os pais, que estão sem roupa e se acariciam.

Em entrevista ontem à tarde, de Paris, por telefone, a artista foi além: falou dos limites da arte, do perigo de seu controle pelo mercado e de sua percepção do presente e do futuro.

O veto à sua mostra está tendo grande repercussão na comunidade artística do Brasil. Um dos pontos levantados diz respeito à ingerência das empresas privadas em questões artísticas. Você considera isso perigoso?

É perigoso. As grandes empresas são conservadoras por natureza. A política delas não é a mesma que nós artistas apoiamos. Em muitos países exposições são, em sua maior parte, financiadas por essas grandes empresas, o que pode ser um problema. É responsabilidade do artista lutar contra qualquer pressão que possa limitar sua liberdade de expressão. A censura começou a se tornar um problema enorme no fim dos anos 80, com Robert Mapplethorpe e Andres Serrano (artistas que enfrentaram problemas de financiamento por trabalharem com imagens consideradas indecentes). Foi aí que ficou claro que os que tinham o dinheiro tinham o poder de controlar o que estava sendo mostrado.

Então qual seria a solução?

Depois que a conscientização cresceu, por conta desses dois casos, os artistas se tornaram mais ativos politicamente, forçando museus a mudar os programas que excluíam pessoas de cor, mulheres e gays. Eu, por exemplo, me recusei a assinar um compromisso em Nova York em 1989 de não fotografar mais os gays e de não fazer qualquer tipo de trabalho voltado à sexualidade. Com isso, não recebi financiamento.

Por que razão, mais de 20 anos depois de sua primeira exibição, “A Balada” ainda provoca reações fortes assim, na sua opinião?

Mas não provoca, em lugar algum. Não tenho esse problema há muitos anos. O trabalho já foi aceito como uma obra de arte importante. Outras coisas aconteceram e eu fui censurada, mas “A Balada”, não.

Como você reagiu ao que houve agora no Oi Futuro?

Fiquei chocada. O Brasil é percebido como um país socialmente livre, de pessoas sem problemas com o corpo, então foi chocante.

Você pensa em não vir mais?

Penso. Ainda não decidi, não posso responder. O apoio da comunidade artística brasileira me tocou, e isso me dá vontade de ir. O que eu sei é que a exposição vai acontecer, em fevereiro. Iria em janeiro, mas não sei como me sinto sobre isso tudo.

O cancelamento suscitou a discussão sobre as fronteiras da arte. Essa questão ainda se justifica, a seu ver?

A arte deve empurrar as fronteiras, essa é a sua natureza, é uma das razões pelas quais a arte precisa existir. O papel da arte é questionar, seja ela conceitual, experimental ou política. Tem que ser radical, seja questionando a sociedade, a diferença de gêneros. Não deveria ser limitada por fontes de financiamento nem pelo mercado, nem ter de pensar no status quo. Mas tudo é limitado pela questão do dinheiro. Não é o que a arte deve ser. Se a arte é controlada pelo mercado, como parece ter sido o caso, ela se compromete, e isso tira sua integridade.
As fotos com as crianças são consideradas problemáticas, porque feririam o Estatuto da Criança e a Adolescente do Brasil. Ninguém me explicou até agora: do que trata a legislação?

É uma lei protetiva específica, que existe há 20 anos e que proíbe a exposição de menores a cenas tidas como pornográficas.

Uau, eu não sabia… Essa lei funciona? Numa sociedade com tantas crianças na rua, que têm de fazer de tudo para sobreviver? Eu já fui ao Brasil três vezes. Soube que houve um massacre pela polícia quando as crianças dormiam (chacina da Candelária, em 1993). Elas não estão recebendo apoio. Alguns artistas apoiam, como Carlinhos Brown, com seu projeto com música. Não faz qualquer sentido. Estão criando problema com fotos de crianças que são filhos de amigos meus há 20 anos, que estão num ambiente acolhedor e amoroso, onde há sexualidade, enquanto há crianças na rua, se prostituindo e fumando crack. Qual é o problema mais sério? Ninguém pode apontar uma foto minha em que a criança não sabia que estava sendo fotografada, ou que esteja sofrendo abuso.

Como você vê essas fotos hoje, que relação afetiva tem com estas imagens?

As pessoas retratadas se orgulham de fazer parte de “A Balada”. As crianças que hoje são adultas não se arrependem. Nenhuma delas. Uma ou outra pessoa se incomoda ao ver seu passado mostrado, e nesse caso não incluo mais no slide show. Antes de um livro, ligo para todos os que ainda estão vivos (vários morreram em decorrência da epidemia de Aids dos anos 80) para ter certeza de que eles querem estar no livro. A minha integridade é uma das coisas mais fortes da minha vida e no meu trabalho. É muito fácil explorar pessoas com a fotografia.

Para você, o que significa este episódio?

O mundo está regredindo. A tecnologia está tirando das pessoas as emoções reais. Não sei como isso se reflete nessa situação, mas vejo que o mundo é totalmente diferente daquele em que eu cresci. Que bom que eu estava viva nos anos 60, 70 e 80, porque isso significa que eu não cresci orientada por um computador.

Nas redes sociais, questiona-se o uso do termo “censura”.

Em inglês, a palavra é essa. Talvez não o seja no contexto brasileiro, ou da Argentina ou da Espanha, que tiveram ditaduras, talvez pareça exagerado. Mas para mim, que venho de uma sociedade supostamente livre e democrática, a palavra é exatamente essa. As pessoas estão olhando preto no branco, não estão vendo as nuances dessa história, o que é perigoso.

Os artistas estão ironizando o fato de o “censor” se chamar Oi Futuro.

É um pouco assustador. O futuro já parecia ruim o suficiente.

http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,cancelamento-de-exposicao-no-rio-deixa-artista-norte-americana-chocada,805090,0.htm

Nan Goldin tem projeto adiado e remanejado no Rio de Janeiro


Fotos: Nan Goldin

* Final feliz mas nem por isso isenta-se de reflexão o ocorrido: a exposição de Nan Goldin vai acontecer no mam-rj, com abertura em 13/02/2012 e patrocínio do Oi Futuro – porém ainda assim mantemos o texto abaixo pois o momento da cultura no Brasil merece ser discutido.

No Brasil da tecnocracia Dílmica, cada vez mais observamos projetos de arte patrocinados por grandes corporações, que por meio de descontos fiscais de leis de incentivo à cultura realizam exposições em nome da arte e de seu marketing. Isso poderia não ser de todo um problema não fosse o fato de que o investimento em artes tem sido mais e mais instrumentalizado e direcionado a projetos espetaculosos e acríticos, que evitem manchar o nome da instituição e também não venham a ferir o público. E o que seria exatamente este “ferir”?

Observamos que o espectador consumidor de produtos culturais vem sendo tratado de modo infantilizado, submetido a regras padronizantes que simplesmente esterilizam de ante-mão o que a arte tem como maior potência: a possibilidade de gerar reflexão crítica e discursos sobre o mundo controverso que habitamos.

Dentro dessa perspectiva esterilizante, o Oi Futuro, no Rio de Janeiro, instituição dedicada a projetos educativos e sem fins lucrativos (também pudera, a empresa mantenedora lucra com telefonia e tem isenção fiscal quando investe em cultura), acaba de vetar uma exposição de uma das artistas mais interessantes do final do Século XX, que é a fotógrafa Nan Goldin. A mostra iria acontecer em Janeiro de 2012, e sua supensão deveu-se ao temor de que a artista expusesse fotos de crianças junto a imagens de adultos em situações-limite.

Um jornalista me contou que a instituição havia vetado imagens de crianças nuas em princípio, e que a artista acatou. Porém, a censura se fez quando foi exigido que fotos de crianças vestidas também não integrassem a mostra. Diante disso, a perspicaz Nan Goldin sugeriu então colocar tarjas pretas sobre todas as fotos expostas, explicitando assim a ação censora institucional. Esta sugestão desagradou ao Oi Futuro que suspendeu a exposição.

A curadora independente e responsável pelo projeto, Ligia Canongia, afirmou em carta aberta que os curadores da instituição desconheciam o trabalho de Nan Goldin e que, ao verem as imagens duras – e humanas – da fotógrafa retiraram o projeto da agenda. Não ficou claro, no entanto, se o patrocínio também seria suspenso.

De certo, não conferi pessoalmente os fatos com o centro cultural, mas os jornais divulgaram tal versão hoje. De qualquer modo, houve um adiamento da exposição de Nan, aparentemente em nome de uma moral e de bons constumes que estão prá lá de abalados e caducos na contemporaneidade, o que só nos faz rir e lamentar este papelão.

O ocorrido nos leva a pensar realmente sobre a idiotização do público, a quem lhe é negado o direito de opinar e discutir algo que pode ser ou não polêmico. Em nome dessa certa ética e moral em franca crise, o indivíduo não tem mais livre arbítrio para decidir o que deseja apreciar ou não. Os poderes do capital e do Estado normatizam a vida privada e a saída parece ser mesmo afiliar-se a uma Igreja pentecostal e esperar a salvação do Messias com seu saco de presentes, pois pensar criticamente não é mais possível.

Na cidade que sofre uma reforma brutal para receber espetáculos desportistas em breve, e onde o custo de vida tornou-se estratosférico, notamos que a alienação é a melhor parte do jogo para os investidores. A maquiagem carioca não consegue lidar com os conflitos e crises da contemporaneidade, preferindo primeiro fazer calar.

Nan Goldin, que já expôs nas mais importantes instituições e mostras do mundo, não tem espaço nesta cidade onde o caos e a arbitrariedade imperam, posto que suas imagens são “chocantes”. Pois eu prefiro o choque da arte ao choque imposto pela ignorânica e a hipocrisia.

Viva Nan Goldin! Viva a humanidade de seus retratos dos excomungados pela “sociedade de bem” que se nega a ver beleza onde em princípio so há feiúra e decadência.

O ser humano é lindo mesmo em sua solidão e desespero. Essa é a mensagem de Nan.

Olimpíadas prá quem?

Em meio à bolha de espetáculos e maquiagem da cidade do Rio de Janeiro, uma iniciativa se coloca como possibilidade de discutir o lado de fora do show.

No periodo de 11 a 18/09 foi realizado o encontro Cartografias Insurgentes, no Morro da Concei̤̣o Рzona residencial tradicional da regịo do porto, que v̻ se aproximar o impacto dos projetos de remodela̤̣o na vida dos moradores.

Para conhecer a proposta e ver uma séire de materiais produzidos pelos que participaram, visite

http://cartografiasinsurgentes.wordpress.com/

Política Cultural e Eleições

Do site Cultura e Mercado, de Leonardo Brant, recebi uns apontamentos que julgo importantes para estimular o debate e o pensamento acerca do futuro das políticas culturais no Brasil.

Porém, aproveito para lançar a provocação: Se em escala federal as políticas culturais se desenvolveram bem nos últimos anos, graças a ministros que pertenceram ao PV, no nível municipal o setor ainda não é levado à sério. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, grande capital e vitrine turística deste país, os centros de arte administrados pela Prefeitura tem um orçamento hilário de tão parco.

Na era em que a cultura é entendida como investimento, oportunidade de negócio e geração de renda, a classe artística desta e de muitas outras cidades brasileiras ficam mortificadas com a atenção dada aos viradões espetaculares e comícios culturais, enquanto que os equipamentos culturais já existentes só recebem esmolas. Não faz sentido.

Mas vamos ao debate sobre as plataformas de governo, no Cultura e Mercado:

Dilema do descaso: os candidatos não têm propostas para a cultura por que as pesquisas não apontam cultura como prioridade? Ou as pesquisas não revelam cultura como prioridade por que a mídia não cobre o assunto? Começou a corrida eleitoral e, para variar, a política cultural continua em segundo plano.

Leia + em Cultura e Mercado

Boicote à política cultural

Repassando…

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Car@s,
Agora em março acontece a II Conferência Nacional de Cultura, onde participarão os delegados eleitos nas Conferências Estaduais. Segundo o regimento interno da Conferência Nacinal é obrigação dos estados custear o transporte de seus delegados. Infelizmente o ÚNICO estado que se negou a cumprir o regimento foi o estado de São Paulo. Segue abaixo uma carta de repúdio escrita pelos delegados.
Att.
Wendy Palo
Coordenadora Financeira Instituto Cultural Janela Aberta

Nós, delegados democraticamente eleitos como representantes legais do Estado de São Paulo para a II Conferência Nacional de Cultura, a ser realizada no período de 11 a 14 de março, em Brasília, vimos por meio desta manifestar o nosso mais veemente repúdio, que pode ser subdividido em desagravo e indignação, ao governo do estado de São Paulo, notadamente invocado nas pessoas de seu governador, sr. José Serra, e secretário estadual da Cultura, sr. João Sayad, pela atitude de boicotar a nossa participação neste importante evento que faz parte de um esforço coletivo e somatório de dotar o país de uma política pública democrática que possa fortalecer a Cultura nacional.

Ao agir assim, os srs. governador e secretário estadual da Cultura do Estado São Paulo descumprem um regulamento previamente acordado entre União e Estado, além de desprezarem o esforço de mais de 400 municípios paulistas que, acreditando na adesão estadual à II Conferência Nacional de Cultura, realizaram as suas conferências municipais e intermunicipais, dispendendo para isso recursos humanos e materiais e reunindo milhares de cidadãos, representantes da sociedade civil e de poderes públicos locais, para debaterem e formularem questões e propostas pertinentes à Cultura.

Uma vez vencidos estes processos, os mesmos municípios voltaram a esforçar-se para enviar seus respectivos delegados eleitos para a cidade de São Paulo, onde em 26 de novembro de 2009, no Memorial da América Latina, realizou-se a fase estadual da II Conferência Nacional de Cultura – evento que também contou com esforços pessoais, governamentais e, mais grave ainda: com uso de dinheiro público para a sua realização. Dinheiro público cujo gasto se tornou  irregular, uma vez que o motivo final de sua utilização veio a se tornar desnecessário, dada a decisão do goverso do Estado em desobrigar-se de sua responsabilidade  para com os delegados estaduais, ou seja, a de garantir a participação deles mediante  arcar com os custos de transporte para Brasília.

Nosso repúdio não deve ser somente em nome – em nome dos delegados estaduais, mas também e, sobretudo, em nome de todos os milhares de cidadãos que participaram das fases municipais e intermunicipais, acreditando serem verdadeiras as intenções do governo do Estado para com a realização da II Conferência Nacional de Cultura.

É preciso salientar que, a partir da postura inábil e totalmente desprovida de prática em conferências do governo do Estado, demonstrada na forma caótica com que realizou a fase estadual, nossos representantes do governo do estado já sinalizavam desconforto com essa maneira de se relacionar com a sociedade civil e, em parceria desta, definir estratégias e propostas visando a implementação de políticas públicas culturais.

Mas esse desconforto pode servir para um nosso não estranhamento com o boicote político de nosso governo estadual à II Conferência Nacional de Cultura, mas não deve justificar o desrespeito dos srs. José Serra e João Sayad a todos os municípios e cidadãos paulistas que crêem em uma nova relação entre Estado e sociedade civil e, para tanto, não economizam tempo nem ações para a construção deste novo tipo de diálogo mais saudável e imprescindivelmente necessário. Este boicote não vitimiza somente a nós, delegados estaduais que subscrevemos a esta carta, mas sim a todo o povo paulista que acredita na Cultura como direito básico do cidadão.

Nós, delegados da Conferência Estadual de Cultura, primeira diga-se de passagem,  subescrevemos esta carta e convidamos a todos artistas, gestores(as) públicos ou privados, produtores(as) culturais, fazedores (as) e/ou sabedores (as) culturais a endossá-la. Ela nos serve como moção de repúdio ao governo estadual paulista, pelo boicote à II Conferência Nacional de Cultura, tanto quanto como a reiteração de nossa crença inquebrantável  na Cultura, na Educação e na Cidadania.

Os srs. José Serra e João Sayad nos deram um “belo” exemplo de como não sermos cultos, educados ou cidadãos.

Sem mais, subscrevemos

DELEGADOS ESTADUAIS DEMOCRATICAMENTE ELEITOS PARA A II CONFERÊNCIA NACIONAL DE CULTURA E APOIADORES DA DEMOCRACIA.

DIAGNÓSTICO DAS ARTES VISUAIS

excerto do:

COLEGIADO SETORIAL DE ARTES VISUAIS

– DOCUMENTO 01/2008 –

I. DIAGNÓSTICO DAS ARTES VISUAIS

As Artes Plásticas – como foram, até há pouco tempo, conhecidas – ganharam nova dimensão, passaram a ser chamadas como Artes Visuais abrangendo todas as formas de expressão artística que, tendo como centro a visualidade, geram – por quaisquer instrumentos e ou técnicas – imagens, objetos e ações (concretas ou virtuais) – e ampliam seu universo para a percepção sensorial. Visto sob esta ótica as Artes Visuais estão presentes em todas as dimensões de nossa existência: nos objetos que nos circundam, nas paredes, nas ruas, praças e espaços arquitetônicos.

Ela estabelece permanentemente a conexão entre nós e o meio urbano, político e social. Não é mais apenas um objeto palpável, absoluto. Envolve um universo ilimitado incluindo desde a pintura de uma tela até o eletrodoméstico e as relações estéticas subjetivas.

A definição sobre os campos das artes visuais tem sido matéria de reflexão e debates sofisticados devido à sua amplitude e à agregação de questões filosóficas. É necessário antes de qualquer diagnóstico, redefinir as Artes Visuais como um território que incorpora hoje diversas áreas de expressão, além das Artes Plásticas, consideradas linguagens tradicionais, como: pintura, escultura, desenho, gravura, objeto. Temos a chamada Arte Contemporânea que faz uso de diversas linguagens abarcando campos tão diversificados pelos seus usos e por funcionamentos próprios, e que, em geral, se relacionam com pesquisas científicas e técnicas, e/ou investigações sócio-culturais e de práticas que produzem objetos, ações, propostas e reflexões, e que, assim, delimitam o campo das artes visuais, a saber:

Atividade Artística Visual no Campo Simbólico: Práticas estéticas que vão desde as atividades em suportes tradicionais até as atividades que visam linguagens e experimentos materiais, corporais, espaciais e ou virtuais; pesquisas de suportes e tecnologias:
Desenho, colagem, gravura, pintura, escultura, cerâmica, objeto, assemblage, fotografia, vídeo-arte, body-arte, performance, instalação, instauração, happening, intervenção urbana, arte e tecnologia (1), eco-arte, arte ambiental, land-art, grafitti, artes interativas, inter-territorialidade entre outros campos das e do saber.

Atividade Artística Visual Economicamente Orientada: Agenciamentos estéticos mistos que se inscrevem em atividades industriais ou comerciais, com meios específicos de circulação que apresentam intersecções ocasionais com o campo simbólico:
Design gráfico, design de produtos, design de moda, web design, design de interiores, arquitetura, decoração, urbanismo, fotografia, quadrinhos, artesanato, cenografia, humor gráfico, ilustração, light design, paisagismo, tapeçaria, tecelagem, animação.

Atividades discursivas no campo das artes visuais: Práticas de re-simbolização da atividade estética no registro de linguagens escritas e outras articulações, visando à atualização de significados. Significados esses que são propostos por obras, objetos e ações artísticas na perspectiva do pensamento e da reflexão (história da arte, crítica de arte, antropologia e psicologia da arte, teorias da arte, curadoria, ensaios).

Observações:

(1) Arte-Tecnologia é um termo genérico usado para descrever a arte relacionada com tecnologias surgidas a partir da segunda metade do século XX. Exemplos que podemos citar: arte em rede, arte robótica, arte com videogames/game art, hipermídia, net art, arte telemática, comunidades virtuais e ativismo artístico, ambientes imersivos, ambientes interativos, projetos de realidade aumentada e congênere, nano arte, arte computacional, bio-arte, arte transgênica, vida artificial, visualização de efeitos físico-químicos, arte digital, web-arte, arte wireless, arte cibernética, etc.

O conceito de Arte Cibernética é significativamente mais restrito, pois exige a interação constante entre o observador e a obra – e/ou entre os subsistemas da obra – num processo de causalidade circular que pode acarretar mudança de objetivos tanto para o espectador como para a obra. Obras que contemplem a interação contínua, cibernética, entre o observador e a obra – e/ou entre os subsistemas da obra –, bem como projetos de pesquisa que discorram sobre ou desenvolvam conceitos relacionados.

(2) Inter-territorialidade – inter-relação das artes com outros territórios do conhecimento humano.

Políticas da Arte – Diálogos da Arte

Políticas da Arte – Diálogos da Arte
MAM-RJ – Dias 3 e 4 de novembro
Local: Cinemateca do MAM
Organização: MAM-RJ/Azougue Editorial
Coordenação: Frederico Coelho e Sergio Cohn

Outubro de 1968: Rogério Duarte e Hélio Oiticica organizam no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro o encontro batizado de Cultura e Loucura. Na montagem da mesa para o debate sobre os limites entre arte e contra cultura, além dos organizadores, participam Caetano Veloso, Nuno Veloso e Luis Carlos Saldanha. A idéia de Rogério e Hélio era ter também Chacrinha e Glauber Rocha, mas não foi possível. Tempos depois, Antonio Manuel lançaria um curta-metragem com os principais trechos do debate.

Outubro de 2009: o incêndio no acervo do Projeto HO desencadeia no meio das artes visuais uma série de documentos, textos pessoais, emails, cartas abertas, testemunhos e manifestos sobre a questão dos acervos de artistas e instituições. O debate gira maciçamente ao redor das condições de preservação e manutenção, das políticas públicas e privadas de financiamento, da repercussão pública do incêndio em contraponto ao descaso diário em relação a outros acervos importantes que se deterioram em nosso cotidiano. Ao mesmo tempo, passa ao largo das mídias as propostas culturais que se encontravam em gestação em torno do Projeto HO, entre elas redes digitais de artistas e criação de espaços de disponibilização ao público das reservas técnicas dos artistas contemporâneos.

Se um encontro como o aqui proposto já se fazia necessário e urgente, ao constatarmos tal massa de opiniões no espaço virtual ou nas conversas privadas, agora se torna inadiável trazer o debate de volta ao espaço público.

Reivindicando a retomada do MAM-RJ como um espaço não só de exposição de obras, mas principalmente de exposição de ideais, questões, diálogos e conflitos, convocamos a todos os personagens do universo das artes visuais da cidade – artistas, críticos, jornalistas, galeristas, donos de acervos públicos e privados, compradores, produtores, público e pesquisadores – para participarem nos dias 3 e 4 de novembro do debate Políticas da Arte – Diálogos da Arte.

O objetivo do encontro é simples: romper com a idéia estática de um seminário acadêmico e estimular a participação pública na formulação de propostas para os problemas e soluções que todos podem trazer em suas colocações. A participação da platéia será tão ou mais importante do que a participação dos nomes nas mesas montadas para estimular o debate. O resultado do encontro será registrado e documentado num caderno de propostas, a ser publicado de maneira emergencial ainda esse ano pela Azougue Editorial.

Na terça-feira, dia 3, teremos duas mesas – uma na parte da manhã (11:00) e outra na parte da tarde(14:00) – com a participação dos coordenadores do evento (Frederico Coelho e Sergio Cohn) e de representantes de acervos (Cesar Oiticica Filho e João Vergara, com mediação da crítica Daniela Name). A intenção das duas mesas é fornecer mais elementos e informações para o debate com o público presente. Também será lançado nesse dia o projeto Rede Arte Brasil, uma rede digital de artes plásticas organizada pelo Projeto HO, com explicação pública de seus objetivos e metas.

Na quarta-feira, dia 4, a intenção é promover durante a tarde (das 14:00 às 18:00 horas) um balanço das conversas do dia anterior e uma convocatória geral para todos os interessados no debate sobre os temas propostos pelo encontro. Uma assembléia geral em que a participação de todos será fundamental para ampliarmos a capacidade de ressonância do evento. Os artistas e críticos Marcio Botner, Ernesto Neto, Felipe Scovino e o curador do MAM-RJ Luiz Camillo Osório, conduzirão o debate desse dia.

Políticas da Arte – Diálogos da Arte não é somente um encontro, não é somente um seminário e vai além do velho debate entre os mesmos. É uma convocação do MAM para que todos seus parceiros e colaboradores (seja o público e a sociedade, sejam os artistas e os que se relacionam com as artes) tenham novamente voz ativa na proposição e condução das políticas que atravessam o dia a dia das artes visuais contemporâneas.

Se no espaço virtual ficou provado nas últimas semanas que a demanda por conversas, por posições e por reivindicações é intensa, chegou a hora de nos encontrarmos face a face para refundarmos um novo marco crítico e um novo espaço de ação no Rio de Janeiro.

A hora é essa. Antes do próximo incêndio.
Esperamos a presença de todos,

Frederico Coelho e Sergio Cohn

Bancos oficiais debatem modelos de financiamento

Ninguém ficou sabendo, mas a gente divulga. E é boa noticia!

Bancos oficiais debatem modelos de financiamento com produtores culturais

A Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, em conjunto com a Fundação Nacional de Artes, organizou um encontro de executivos do Banco do Brasil, do BNDES e da Caixa Econômica Federal com produtores culturais, para apresentação dos produtos de crédito para a Cultura oferecidos pelos bancos oficiais.

A reunião ocorreu nessa segunda-feira, 21 de setembro, na Sede da Funarte, no Rio de Janeiro, e também contou com a participação de diretores do Sebrae. Na ocasião, discutiu-se a viabilização de parcerias entre as entidades presentes, de forma a corresponder a todo o potencial da Economia da Cultura, que representa 5% do PIB nacional.

O encontro cumpriu a segunda etapa de um projeto que a Sefic/MinC iniciou em agosto deste ano, realizando o 1° Encontro de Integração MinC – Bancos Oficiais, no qual houve troca de experiências e ideias para fomento da Economia da Cultura. O resultado da iniciativa foi discutido diretamente com os produtores do setor que, relatando as dificuldades e anseios mais comuns às áreas em que atuam, evidenciaram a necessidade de adequação dos produtos de crédito existentes.

Os executivos das instituições financeiras, mostrando-se favoráveis a esta adequação, manifestaram o interesse que têm de customizar seus produtos aos segmentos da cultura. Atualmente, os bancos oficiais têm mais de R$ 5 bilhões para disponibilizar em linhas de crédito e microcrédito para o setor cultural. Para o presidente da Funarte, Sérgio Mamberti, tão importante quanto o aporte de recursos é a execução das políticas públicas para o setor, que é o papel do MinC.

PARANGOLÉ DE MUITOS

O IMAGINARIO PERIFÉRICO, a EBA|UFRJ, a ECO|UFRJ,
a UNIVERSIDADE NÔMADE e o PROJETO HÉLIO OITICICA,
convocam todos os artistas interessados a participar
da MANIFESTAçãO PRÓ HéLIO OITICICA a fazerem
seus parangolés conforme instrução abaixo e se
juntarem a esse corpo coletivo pedindo a PERMANêNCIA
DA OBRA DE HO NO CENTRO DE ARTE QUE LEVA SEU NOME.
23|MAIO – 15H – SÁBADO

RUA LUíS DE CAMõES 68 – CENTRO – RIO DE JANEIRO

[Em frente ao Centro de Arte Hélio Oiticica]
>VIDEO-PERFORMANCES do Imaginário Periférico
na obra RODISLâNDIA no Centro H.O.
>TREME TERRA de Aderbal Axogum
>NIMBO OXALá de Ronald Duarte
>CHAPéU PANORâMICO de Romano
>MUSA PARADISíACA de BobN
Venha e FAçA VOCê MESMO SEU PARANGOLé.

Leia [abaixo] a proposição de Hélio Oiticica
e entre nessa onda.
_______________________________________________________
hélio oiticica

1968
INSTRUÇÕES para feitura-performance de CAPAS FEITAS NO CORPO
1- cada extensão de pano deve medir 3 metros de comprimento.
2- o pano não deve ser cortado durante a feitura da capa, de modo
a manter a estrutura extensão-extensão como base viva da capa.
3- alfinetes de fralda devem ser usados para a construção da capa,
que será depois cosida.
4- a estrutura da capa construída no corpo deve ser improvisada
pelo participador; se a ajuda de outros participadores vier a calhar,
ótimo; a estrutura deve ser construída em grupo em cada corpo
participante, e feita de modo a ser retirada sem destruir, como
uma roupa.
5- um grupo pode construir uma capa para várias pessoas, numa
espécie de manifestaçãqo coletiva ao ar livre.
6- o uso de dança e/ou performances criadas por outros indivíduos
é essencial à ambientação dessa performance: assim como o uso
do humor, do play desinteressado, etc. de modo a evitar uma
atmosfera de seriedade soturna e sem graça.

parangole_faca_voce_mesmoparangole_faca_voce_mesmo_em_acao