Política, Arte e Fazer Arte Politicamente: Holocausto na Faixa de Gaza e reflexões de Thomas Hirschhorn

O ano apenas começa e já chega com uma crisezinha no horizonte e um genocídio básicos. Como seguir refletindo sobre arte e criar poeticamente diante de um cenário que nos lança a dura realidade na cara? Se por um lado o artista e seus teóricos podem vir a parecer alienados, por outro, a arte deve sempre ser vista como uma alternativa (nem sempre reconfortante) ao horror e à barbárie, confirmando, portanto, seu caráter de resistência.

Primeiro, o fato a partir de um texto extraído do site de jornalismo independente http://www.viomundo.com.br :

A ilusão da vitória na Faixa de Gaza
Em carta aberta, maestro israelense diz que ofensiva militar é desumana e não garante segurança

Segundo, a reflexão do artista sobre fazer arte diante dos deploráveis fatos desumanos que só a humanidade consegue gerar:

Thomas Hirschhorn: ‘Doing Art Politically: What does this mean?’

Palestra na Royal Academy Schools, London, 2008. Em inglês


Performance Presente Futuro: o livro

Recentemente foi lançado o livro-catálogo do evento Performance Presente Futuro que aconteceu no centro Oi Futuro, Rio de Janeiro, em agosto de 2008. A publicação foi editada pela editora Contracapa em parceria com a Oi Futuro e possui artigos de colaboradores como Orlan, Bia Medeiros, Stelarc, Silvio de Gracia, Ricardo Dominguez e Rosangella Leote. Além dos textos, também apresenta registros do evento com suas performances e palestras.

Em breve estará disponível para download no artesquema.  Enquanto isso… Boas festas!

capa-livro1

projeto gráfico: João Modé

Fim do primeiro capítulo

Pichadora da Bienal consegue liberdade provisória após 50 dias na cadeia
Da Folha de São Paulo

Caroline Pivetta da Mota, 24, teve reconsiderado seu pedido de habeas corpus no TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo). Após expedido seu alvará de soltura, ela poderá responder ao processo em liberdade provisória.

Sua audiência pública está marcada para 17 de fevereiro de 2009. Nela, serão ouvidas testemunhas de acusação e defesa, Ministério Público e também o taxista e Rafael Vieira Camargo Martins, 27, amigo de Caroline que responde ao processo da Bienal em liberdade. A juíza poderá divulgar sua sentença no dia da audiência ou esperar para reunir mais informações sobre o caso.

Na denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo, Caroline é acusada de se associar a “milicianos” com fins de “destruir as dependências do prédio”. Dependendo do julgamento, ela pode ficar atrás das grades até a próxima Bienal, em 2010, já que o artigo 62 da Lei de Crimes Ambientais (destruição de patrimônio cultural) prevê de um a três anos de prisão.

Caroline ficou presa na Penitenciária Feminina de Santana (zona norte de São Paulo), de onde falou com a reportagem da Folha Online há duas semanas (ouça aqui). “A gente não queria estragar as obras deles [da Bienal], mesmo porque não tinha obra. A obra, ali, nós que íamos fazer”, disse. Ela define “a parada” que faz como “uma agressão visual”. “É para o povo olhar e não gostar.”

Desde então, seu caso provocou reações em todo país, inclusive em Brasília. Os ministros Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) e Juca Ferreira apelaram pela liberdade da jovem, o querepercutiu no governo de São Paulo.

Diversos artistas cobraram ajuda da Fundação Bienal na libertação da jovem, e um abaixo-assinado circula na internet com o mesmo pedido. Os curadores da exposição deste ano negam ter responsabilidade no caso.

Hoje, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) recebeu pedido de habeas corpus para soltar Caroline. Caroline já trocou de defesa três vezes e teve dois pedidos de habeas corpus negados. O caso já passou pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo e agora está com Augusto de Arruda Botelho, advogado criminalista e diretor do Instituto de Defesa do Direito de Defesa.

O direito de intervir: o mesmo assunto sob um olhar mais amplo

O direito de intervir por Pedro Alexandre Sanches e Ramiro Zwetsch, Carta Capital

O direito de intervir

Matéria de Pedro Alexandre Sanches e Ramiro Zwetsch originalmente publicada na Carta Capital em 12 de dezembro de 2008.

Apelidada algo jocosamente de “Bienal do Vazio” e encerrada no sábado 6 de dezembro, a 28ª Bienal de Artes de São Paulo se mantém alvo de debate, mas menos pelo que era intrínseco a ela e mais por algo que veio de fora e a instituição se esforçou por extirpar. Logo no primeiro dia de exposição aberta ao público, cerca de 40 pichadores “roubaram” para eles grande parte da atenção cobiçada por um evento já de antemão esvaziado. Naquele 26 de outubro, invadiram o pavilhão do Parque do Ibirapuera para imprimir suas marcas nas paredes imaculadas da criação de Oscar Niemeyer, munidos de spray e alguma agressividade.

A mostra, que neste ano ostentou o lema Em Vivo Contato, entrou em vivo contato com os manifestantes. Mas para reprimi-los e prendê-los.

Os desdobramentos não param. A artesã Caroline Pivetta da Mota, de 23 anos, foi presa naquele dia e até 10 de dezembro permanecia na Penitenciária Feminina Sant’Ana, no Carandiru. O taxista Rafael Vieira, também presente no chamado protesto, foi levar documentos para a colega e terminou preso por oito dias.

Caroline, em especial, é evidente bode expiatório de um confronto social de contornos violentos que aterroriza instituições, autoridades, curadores e parte volumosa da sociedade. A ação dos pichadores e a repressão também violenta a Caroline abrem diversos territórios de embate simbólico, entre arte “nobre” e arte de rua, entre o que é considerado arte e o que não é, entre arte, entre repressão e liberdade, entre elite e favela. O confronto é ilustrado até na dimensão ortográfica. Os pichadores se auto-representam como “pixadores”. A norma estabelecida, “culta”, trata os pixadores de “pichadores”. Abre-se um leque de contradições do qual ninguém escapa, e entre o picho e o pixo está o xis de uma complexa questão.

A cicatriz da cisão social aparece no discurso do curador da 28ª Bienal, Ivo Mesquita. “É claro que ninguém esperava que eles pedissem para pichar. Mas aquilo foi um arrastão, e arrastão não é a melhor prática”, diz, em alusão indireta à origem social da maioria dos integrantes de grupos como PiXação – Arte Ataque Protesto, Sustos, Maligno e Túmulos.

O curador critica a atitude “exibicionista”, “narcisista” e “vaidosa” de um suposto líder do grupo, Rafael Augustaitiz, que na opinião de Mesquita é “doido para aparecer na mídia”. Mas em seguida inverte a direção: “O exemplo está aí, vem de cima para baixo. Todas as classes sociais são mal-educadas. Temos uma elite preconceituosa, uma sociedade classista”.

Augustaitiz, codinome Pixobomb, vem da periferia paulistana e estudava artes visuais no Centro Universitário Belas Artes, como bolsista. Seu primeiro ato célebre, em julho deste ano, foi defender a pichação como trabalho de conclusão de curso. Levou a turma para pichar a faculdade de classe média alta. Foi reprovado, acabou expulso da faculdade e ficou sem diploma. Arredio, o ativista pop responde com citação ao filósofo Friedrich Nietzsche a uma tentativa de aproximação por e-mail. “Como falta tempo pra pensar e ter sossego no pensar, não se estuda mais as opiniões divergentes. Contenta-se em odiá-las”, reproduz.

O grupo é heterogêneo e formado por diversos subgrupos. Outro integrante conta que as manifestações são convocadas por e-mail ou em filipetas distribuídas nos vários points de pichadores pela cidade. O ato mais violento aconteceu em setembro, numa galeria privada, ironicamente chamada Choque Cultural. No que apelidam de “atropelamento”, picharam por cima de grafites de outros artistas. E agravaram contradições entre os grafiteiros, artistas de rua em processo de assimilação pela sociedade, e a corrente mais crua e agressiva, adepta do “picho”.

“Todo mundo está assustado”, afirma Mesquita, em referência ao ataque à Bienal. “Não só a Fundação, mas também os museus da cidade tiveram de reforçar a segurança, e isso tem custo.”

Tanto a pichação como o grafite são enquadrados na legislação como crimes ambientais. O artigo 65 da Lei 9.605/98 determina detenção de três meses a um ano para quem “conspurcar edificação ou monumento urbano”. Mas, por trás de implicações policiais e ambientais, há outras, de natureza política. O pichador Tatei, que trabalha como segurança e integra o grupo Túmulos, cita pichações contra Gilberto Kassab e José Serra, na casa do primeiro e junto à “cratera” aberta numa obra do Metrô. Há poucos dias, o Túmulos pichou no muro da casa de Celso Pitta as frases “a cadeia é só para pobre” e “liberdade, Carol”. “A gente não está de bobeira. Agora todo mundo está metendo o pau, mas ninguém quer saber como a gente vive”, diz Tatei.

Mas, para cá desses casos mais agudos, a pichação está fixada na pele da cidade de São Paulo como tatuagem irremovível. Nem o implacável projeto Cidade Limpa consegue combatê-la. Arrancados outdoors e placas, a tinta reluz ainda mais cintilante, no centro ou na periferia, e compõe a paisagem urbana, mesmo incompreensível aos olhos da maioria. Quem a rejeita se acostuma a conviver com ela sem sequer notá-la.

Num sábado, a reportagem encontra-se com um grafiteiro e quatro pichadores participantes das manifestações. Todos são unânimes quanto ao prazer em fazer algo ilegal. “A graça é a ilegalidade, dar vários bonés na polícia”, argumenta o pichador Sustos. “Se fosse legalizado, eu não ia querer mais pixar. Ia perder a graça”, completa o rapper R Hip-Hop.

Outro ativista, o vendedor Alemão, da gangue Larápios, sintetiza intenções por trás das ações: “Deixo uma parte de mim na cidade. Sangro, suo, me desgasto nos rolês. Tenho tanto pixo por aí que me sinto como se eu tivesse um bem material. Tenho uma obra, aquilo me completa”.

Do outro lado da muralha social, há quem seja crítico tanto à arte estabelecida quanto aos invasores. O pintor Rodrigo Andrade, que participou da Bienal de 1985, repudia o que chama de “curadorismo” e declara simpatia pela pichação, mas bombardeia os homens-bomba de spray: “A invasão esvazia a força da pichação, é tiro no pé. É vandalismo travestido de idéia artística. É tudo autopromoção”.

“O que importa é a idéia que fica. Acho que é a primeira vez que surgiu um diálogo mais aberto sobre a pixação”, contrapõe o fotógrafo Adriano Choque, que acompanha essa movimentação há três anos e clicou as três imagens reproduzidas nesta reportagem.

O designer francês François Chastanet, autor do livro Pixação – São Paulo Signature, amplia o foco. “Pixação é vandalismo, e por isso é tão interessante. O fato desses escritos serem ilegais é essencial. Os pixos são um alfabeto desenhado pela invasão urbana”, argumenta Chastanet. “Os pixadores de São Paulo foram capazes de formar sua própria identidade pela tipografia, este fato é único no mundo da comunicação visual de subculturas.”

Questionado sobre o ponto delicado do direito de todos ao acesso ao mundo das artes que ele representa, Mesquita concentra-se nas contradições do lado oposto: “Mas por que eles querem ter acesso a este mundo que eu represento? Por que querem ser institucionalizados? Você deixa de ser transgressivo quando entra na instituição”.

Mas essa contradição parece recíproca. A tentativa de entrada forçada por parte dos pichadores contrasta com o confinamento progressivo da chamada arte oficial. Ao expulsar os segmentos transgressores mais violentos e estranhos a seu dia-a-dia, a Bienal arrisca-se a expulsar a própria transgressão de suas entranhas.

Fora do ambiente de invasão, uma das ações consentidas com maior repercussão na Bienal foi a performance Sem Título – A bondade de estranhos, de Maurício Ianês. Completamente nu a princípio, ele “morou” no prédio da Bienal entre 4 e 16 de novembro, intervalo em que dependeu exclusivamente dos visitantes para obter alimentos e roupas.

Se a nudez, por exemplo, incomodou a sociedade em outros tempos, hoje curador e artista são unânimes em afirmar que não se trata de um trabalho de transgressão. “É mais no sentido de ele ficar morando aqui dentro”, diz Mesquita.

Para Ianês, o conflito trazido pelos pichadores diz respeito à lei, e não à Bienal ou à arte. Mas ele também contempla a contradição, quanto aos limites entre o que as regras vigentes permitem ou não: “Tive a oportunidade de ver outros artistas, músicos e performers que usaram meu trabalho para apresentar o seu, coisa totalmente condizente com a idéia da performance. E não foram barrados”.

O curador cita alguns desses exemplos, como o homem que tocava acordeão e pedia dinheiro aos visitantes dentro do prédio ou o manifestante que espalhava pequenos sinais pelo prédio, e nunca foi identificado.

É fato que tais exemplos não contemplam depredação nem violência explícita. Mas algumas perguntas incômodas rondam a arena de confronto. Quanto da distinção de tratamentos diz respeito ao grau de agressividade de quem se sente excluído de um clube seleto? Quanto diz respeito ao grau de domesticação atingido pela arte de pavilhão? Ou, em termos mais diretos, quanto de tal conflito se explica pela classe social de cada visitante disposto a penetrar (com ingresso gratuito) no santuário de Niemeyer?

para este e outros textos sobre o assunto: www.canalcontemporaneo.art.br/brasa/archives/001973.html

Caroline Piveta da Mota, está presa há quase 50 dias por pixar as paredes vazias da Bienal de São Paulo.O link a seguir é um abaixo-assinado pela sua liberdade.
http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/3309

Destinatário: FUNDAÇÃO DA BIENAL DE SÃO PAULO E MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

No dia da abertura da 28ª Bienal de Artes de São Paulo, 40 pichadores entraram no Pavilhão e “atacaram” com seu design gráfico todo particular o segundo andar o prédio, o local que estava o chamado “vazio” proposto pela curadoria que consistia de paredes e pilastras brancas. Na ocasião, a pichadora Caroline Piveta Mota foi a única detida sob a alegação de depredar o patrimônio público. Acusada de se associar a “milicianos” para “destruir as dependências do prédio”, a jovem continua presa.

O que nós, agentes culturais, estranhamos é que existe um paradoxo nesse caso, pois se trata de patrimônio público, mas também de uma mostra de arte contemporânea, local propício para esse tipo de manifestação desde o começo do século 20.

Como escreveu o professor e artista Artur Matuck: “As paredes foram pichadas e repintadas e a mostra não foi prejudicada. Independente da discussao estética, se a pichaçao é ou não arte, se se justifica ou não, a atuação deste grupo ao invadir o prédio da Bienal com um grupo de pichadores, foi também um ato expressivo, foi inequivocamente uma manifestaçao cultural. […] Uma discussão ampla e bem informada sobre o fenômeno cultural da pichaçao é relevante desde que na medida em que não é validado enquanto expressao artistica pode ser considerado como vandalismo e justificar repressão”.
Repressão essa que faz Caroline estar presa até hoje e ainda pegar uma pena de 3 anos.
Por isso pedimos: LIBERTEM A PICHADORA CAROLINE PIVETA DA MOTA!

28ª Bienal de São Paulo: + Ruídos

Este artigo/ carta está circulando intensamente e o assunto vem sendo muito debatido. Enquanto a onda pró libertação Caroline Sustos avança, tornando-a mártir de uma situação que envolve muitos assuntos os quais extrapolam o campo da arte, apenas repasso informação…

Acusar a grafiteira Carolina da Mota, presa há 52 dias, de “danificar patrimônio tombado” é estratégia hedionda

PAULO HERKENHOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA

Minha opinião ou a de qualquer outra pessoa sobre o grafite não tem a menor importância no caso da Carolina Pivetta da Mota na Bienal de São Paulo. Não se trata de condenar ou aplaudir a ação de grafitagem. Eu vi, em 1972, os seguranças do MAM carioca ajudarem Antonio Manuel a fugir da polícia que o perseguia porque havia se apresentado nu no Salão Nacional de Arte Moderna. O MAM do Rio não mandou prender Raimundo Colares quando quebrou vidros do prédio em manifestação durante a ditadura militar.
A Bienal quer que o Brasil sinta saudades da ditadura? A mesma Bienal que entrega a grafiteira à polícia foi a que proscreveu Cildo Meireles em 2006 por ter protestado contra a reeleição de Edemar Cid Ferreira para seu conselho. O paradoxo é que Edemar não providenciou a prisão da garota que beijou com batom uma tela de Andy Warhol na Bienal de 1996, fato muito mais grave do que grafitar paredes nuas.
A Bienal, seu presidente, conselheiros e curadores que continuarem a se omitir precisam aprender algo com Edemar: na Bienal, a repressão não é um fim em si. Confesso que, quando soube da grafitagem, pensei que fosse um gesto autorizado numa Bienal que ia criar uma praça de convivência e estimulava a participação da cultura pop jovem. Era estratégia de marketing ou efetiva proposta de política cultural?
No entanto, tudo é obscurantista na posição da Bienal desde o dia da grafitagem. Posso até entender as reações de primeira hora mais agressivas por agentes culturais e políticos da Bienal, mas temos de admitir ser uma estratégia hedionda acusar a grafiteira de “danificar” o patrimônio tombado, já que as feiras, as festas de casamento e a própria Bienal furam e escrevem nas paredes, pintam e bordam com o prédio sem autorização do Iphan.
Se a grafiteira fosse um nome do mercado de arte não teria sido presa ou já estaria solta. O ato de Carolina Pivetta da Mota é rigorosamente igual a tudo o que ocorre no prédio da Bienal. Depois é só repintar, como aconteceu. Tudo se refaz porque o prédio da Bienal está à disposição da expressão. Sua estrutura original de feira industrial tinha que ser necessariamente versátil para atender a todo tipo de tranco físico. Por isso o acabamento sem adornos e luxo do Pavilhão do Ibirapuera. É só cimento, tijolo e cal.

Debate na pasmaceira
Carolina também não interveio na obra de ninguém. Ela não é uma Tony Shafrazi, que grafitou a “Guernica” de Picasso. Se tivesse praticado um ato anti-social realmente grave, Carolina já poderia ter sido condenada a alguma prática comunitária na própria Bienal. Neste caso, não se estaria “domesticando” uma consciência crítica, mas dando-lhe a oportunidade de entender melhor o processo de uma Bienal. O que Carolina está contribuindo socialmente agora é a introduzir um debate na pasmaceira institucional.
Se tivesse causado um dano real à superfície das paredes, teria sido ínfimo. Dirigi um museu do Iphan onde uma ex-diretora causou danos em esculturas ao instalá-las ao ar livre, onde tomavam chuva ácida. O Iphan e o Ministério Público não pediram sua prisão quando se verificaram danos irreparáveis à pátina na escultura “A Faceira de Bernardelli”.
No caso do grafite na Bienal, não ficaram seqüelas. Fui curador da 24ª Bienal de São Paulo, e minha monografia final no mestrado em direito pela Universidade de Nova York foi na área de direito constitucional. Nessa dupla condição, afirmo que o que vejo aqui é uma posição odienta da Bienal transferindo a responsabilidade por essa situação kafkiana para os órgãos do Estado como responsáveis por este processo.
Carolina não danificou nenhuma obra de arte. Por acaso, Oscar Niemeyer veio a público protestar contra a grafitagem como um “ataque” danoso ao pavilhão do qual é autor, como sempre fez quando degradam um projeto de sua autoria?
A Fundação Bienal primeiro agiu de modo intolerante e agora de modo cínico ao lavar as mãos. Parece que estar em “vivo contato”, proposta desta Bienal, está sendo entendido como exercício de ira ou crueldade que, afinal, estão entre as pulsões de morte da espécie humana. Ou é só vingança? Afinal, alguém tem que pagar…
Mesmo que seja uma mulher, baixinha, gordinha que não conseguiu escapar da ineficiente vigilância da instituição como os outros 30 galalaus. Sua prisão serviu para salvar a honra dos vigilantes e o contrato da empresa com a Bienal… Parabéns a Carolina por não ter pensado na delação premiada para se safar da encrenca, mesmo depois de 52 dias sem um habeas corpus. Carolina Pivetta da Mota passou o dia de comemoração dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos numa cadeia em São Paulo. Isso não denigre a Bienal, nem São Paulo, nem o Brasil. Isso denigre a humanidade.
Se o vazio fosse de fato o espaço aberto para discutir a instituição, essa extraordinária grafitagem teria sido incorporada ao projeto ético e político da 28ª Bienal. A grafitagem já é um dos fatores mais marcantes desta edição. Com mais repressão, deixará de ser um problema de excessivo rigor penitenciário para se tornar uma questão para estudos éticos curatoriais e debates estéticos. Se a Fundação Bienal de São Paulo não se cuidar, a conclusão a que se poderá chegar é a de que o principal problema da Bienal é a 28ª Bienal e a estrutura política que a sustentou.
Peço desculpas a Carolina por não ter protestado, em minha recente palestra na Bienal, em sua defesa e contra esse estado brutal de condução da vida institucional. Eu pensava que já estivesse solta. Quem salva o Brasil e a Bienal não é cadeia, é Mário Pedrosa ao dizer que a arte é o exercício experimental da liberdade. E dirigir a Fundação Bienal de São Paulo ou fazer curadoria não pode perder isto de vista. (Rio, 12/12/2008)

PAULO HERKENHOFF é curador e crítico de arte. Dirigiu o Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, e foi curador do MoMA em Nova York e da 24ª Bienal de São Paulo, em 1998

ART Interview РONLINE Magazine РCompeti̤̣o de artistas online


Esta semana é dedicada às coisas bizarras. Após o post sobre as aquarelas do Marylin Manson na Feira Miami Basel, surgiu este irresistível link de um concurso com prêmios em até 17.000,00 euros para trabalhos publicados no site desta revista online. Há muitos artistas e trabalhos, e a qualidade é diversa. Uma loucura, meus amigos. Mas se o esquema dá margem à divulgação de todo e qualquer tipo de obras, por outro é também um modo democrático de fazer uma produção circular. Afinal, há gosto para tudo. Os 3 vencedores do concurso são escolhidos por júri especializado e também por um júri popular formado pelos que acessam o site. A visita diverte e se você é um artista ainda pode se inscrever no concurso.

ART Interview – ONLINE Magazine

brasil_cuba

Relato da experiência recente da midia-ativista e criativa Tati Wells (não vou chamá-la de artista por que talvez ela não goste) em Cuba, onde foi para fazer trabalhos de ajuda humanitária e cultura.  O relato é um alerta, apesar de não trazer grandes novidades.

“Em setembro de 2008 passei quase 40 dias em Cuba. A minha primeira noite foi na casa de Liz & Jac que conheci através do projeto desislaciones, de rosa. Foi nessa casa que tive os primeiros contatos com a realidade de Cuba. No dia seguinte à minha chegada, ao passear com Jac no Malecón, um guarda nos pára pedindo identificação. A noite já não podia mais dormir em sua casa pois havia perigo de aparecer alguma força policial atrás deles e de mim, já que receber visita na casa de um cubano é ilegal, mesmo um parente. Foi nesse incidente inicial que percebi a bolha em que estava, a paradoxal Cuba, terra de revolução e de vigilância, de utopismos e controle social, de comunismo e ilegalidade, de analfabetismo proibido, casa para todos, cultura de ponta e crise alimentar.

Durante a convivência com Liz & Jac também fiquei sabendo da censura à trabalhos e conversamos sobre a dificuldade de uma colaboração sobre arte e tecnologia em um contexto tecnológico praticamente inexistente – onde peças são caríssimas e impossívels de achar (se você não pede a alguém que venha de fora sujeitando-se a pagar as altíssimas taxas alfandegárias e tendo como risco a perda do mesmo). Justamente por esta razão, não instalamos linux na mimosinha que tinham em casa, não havia memória suficiente. A internet é proibida nas casas pessoais e apenas 3 ou 4 espaços públicos em toda cidade de Havana dispõem do caríssimo acesso (por volta de 7 dolares a hora por uma conexão lentíssima). Todos os meios de comunicação são estatais e pertencem ao Partido Comunista, jornais culturais alternativos duram no máximo 2 anos (como uma experiência de suplemento artístico que Jac e Liz fizeram)  e a comunicação por computadores se resume a uma grande Intranet de e-mails compartilhados por professores, educadores, médicos etc, que dividem algumas informações previamente escolhidas pelo “grande servidor”.

Em uma oficina de 3 dias e mais outros esforços pessoais em diferentes espaços e ocasiões, fizemos uma proposta de projeto em comum, que une a obsolescência tecnológica brasileira que a cada ano renova sua imensa máquina estatal por exemplo, à expertise dos recicladores cubanos (cacharreros) que re-aproveitam todo material existente, preservando maquinário, móveis e residências centenárias em meio à precariedade de suas condições. O trabalho em software livre realizado por brasileiros e brasileiras também têm muito a contribuir com o contexto contra-hegemônico cubano. Vamos ver se é possível dar continuidade à colaboração. Idéias são mais do que bem-vindas!”

O texto com fotos está em: http://midiatatica.info/desislaciones_brasil_cuba.html

CONSERVAS

CONSERVAS
ARTE QUE FUNCIONA. Arte, política y otros excesos. Espacio cambiante para la creación, el intercambio, las conexiones, la experimentación, el aprendizaje y la transformación en general. Conservas es también una compañía de teatro e intervención. Conservas produce acciones, media-acciones y otras herramientas. Conservas es, por último, un festival bienal que nos permite ver y repensar lo que está pasando. Conservas no es un placebo cultural.