“Panorama estrangeiro” é atacado na web

Prá quem quiser acompanhar a discussão, há um link com depoimentos de algumas pessoas sobre o fato. Mas o melhor comentário é o de Ricardo Basbaum: “Parece que somente os curadores são capazes hoje de provocar polêmicas; antes estas eram produzidas pelas obras, pelos artistas. Se pensarmos na 28ª Bienal, a discussão que mobilizou a opinião pública foi provocada pelos curadores e não por qualquer artista ou obra da mostra”.

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Folha de São Paulo, 4/05/09

“Panorama estrangeiro” é atacado na Web

Tradicional mostra bienal sobre arte brasileira, agora curada por Adriano Pedrosa, gera polêmica por só ter estrangeiros

“Que presunção, que vaidade, que egocentrismo”, diz artista Artur Barrio; ideia também tem defensores, que a Ilustrada ouviu

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em vez de “Panorama da Arte Brasileira”, “Brazilian Art Landscape” é como o artista Alex Cabral propõe que seja denominada a mostra com curadoria de Adriano Pedrosa, a ser inaugurada em outubro, no MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo).
Já a artista Ligia Borba sugere “Panorama da Arte Brasilianista”. O sarcasmo faz parte da maior parte das 58 mensagens já postadas (até o fechamento desta edição) no site Canal Contemporâneo, a partir da proposta de Pedrosa de não incluir artistas brasileiros na exposição com caráter bienal, criada há 40 anos.
No blog do Canal Contemporâneo -uma comunidade digital organizada pela artista Patrícia Canetti-, a grande parte dos comentários à proposta de Pedrosa, após reportagem publicada na Folha, é marcada por reações bastante violentas (http://www.canalcontemporaneo.art.br/
brasa/archives/002119.html
).
Um dos exemplos é como o artista Artur Barrio contesta Pedrosa: “Que presunção, que vaidade, que egocentrismo, que exclusão, que ignorância”.
“Sabia que a proposta geraria polêmica, e o formato de blog propicia reações violentas. Como a curadoria é uma prática que exclui muito mais do que inclui, pois o conjunto incluso é sempre infinitamente menor do que o excluído, quanto mais reputada a mostra curada, maior o número de potencialmente frustrados ou irados em relação a ela”, diz Pedrosa.

Opiniões favoráveis
A Folha ouviu outros 13 artistas e curadores (leia íntegra dos depoimentos em www.folha.com.br/091221) e a maioria, ao contrário do que ocorre no Canal Contemporâneo, posicionou-se a favor do projeto de Pedrosa. De todos, apenas a artista Carmela Gross e o curador Paulo Venancio Filho foram contrários à proposta.
A favor manifestaram-se os artistas Jac Leirner, Rivane Neuenschwander, Rosângela Rennó, Sandra Cinto e Ricardo Basbaum, além dos curadores Agnaldo Farias, Lisette Lagnado, Daniela Labra, Rodrigo Moura, Cristiana Tejo e Felipe Chaimovich.
Curador do MAM-SP, Chaimovich coloca a instituição em defesa de Pedrosa: “O “Panorama” caracteriza-se pelo questionamento regular da natureza da arte brasileira e o debate gerado pela proposta curatorial de 2009 mostra a relevância de uma reflexão renovada a cada edição, quebrando expectativas e apontando interpretações inesperadas, como cabe a um museu de arte moderna”.
No entanto, nem todos são a favor da ideia de forma integral, apresentando algumas ressalvas, como o artista e curador Ricardo Basbaum.
“Parece que somente os curadores são capazes hoje de provocar polêmicas; antes estas eram produzidas pelas obras, pelos artistas. Se pensarmos na 28ª Bienal, a discussão que mobilizou a opinião pública foi provocada pelos curadores e não por qualquer artista ou obra da mostra”, diz ele.
“Isso me preocupa: obras e artistas não estão sendo mais percebidos enquanto agentes provocadores, e sim os curadores”, completa Basbaum, que está em cartaz em São Paulo, na galeria Luciana Brito.
A polêmica, contudo, está ajudando o curador a redefinir sua própria exposição.
“A princípio, eu tinha pensado em fazer uma exposição mais esparsa, com um número menor de artistas, mas agora estou considerando incluir mais obras, mais exemplos de “arte brasileira feita por estrangeiros”, sem querer esgotar o assunto, mas tornando o argumento mais claro”, diz Pedrosa.

http://ciccillo.wikispaces.com/

O espírito de Ciccillo Matarazzo se revoltou contra a confusão da Fundação Bienal , e lança este protesto on-line. Se ele vai engajar os artistas, não sei, mas a tentativa é bem-humorada.

“Os tempos mudaram… E diante dos últimos acontecimentos que atingem a Bienal Internacional de Arte de São Paulo, que fundei em 1951 e presidi até a minha morte em 1977, inicio este wiki com o Relatório da Curadoria da 28ª Bienal de São Paulo.

Meu objetivo não é apenas comentarmos este relatório, mas também e, sobretudo, pretendo criar aqui um uma arena pública para que a sociedade brasileira mostre a sua indignação. Vamos publicar, pesquisar, apontar, criar uma situação que demonstre aos órgãos competentes que não podemos mais tolerar esta situação. Anos de gestões incompetentes, para dizer o mínimo, agora desembocam na possibilidade de vermos o pavilhão brasileiro da Bienal de Veneza vazio. Ora, senhores, isso é demais!

Sou obrigado a pedir que a sociedade brasileira acompanhe a minha indignação e se movimente em defesa de nosso patrimônio institucional artístico maior.

Declaro o espaço aberto. Vamos aos debates!

Ciccillo Matarazzo”

http://ciccillo.wikispaces.com/

Comentário sobre o Panorama

Este texto foi gentilmente enviado por Traplev para a publicação no Artesquema.

A DISFUNÇÃO DO PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA
OU O DES-PANORAMA EM ACLIMAÇÃO
(E COMENTÁRIOS DO BLOG DO CANAL CONTEMPORÂNEO)

(publicado também em versão espanhol http://esferapublica.org/nfblog/?p=1893 )

Roberto Moreira Junior
(Traplev)

Quando li a reportagem na Folha de SP, também lembrei como referência, sobre a indicação na Alemanha do artista inglês Liam Gillick para a Bienal de Veneza deste ano. Mas o interessante em ler a reportagem e depois ler os comentários no blog do canal contemporâneo (http://www.canalcontemporaneo.art.br/brasa/archives/002119.html), foi sentir tanta inflamação.
Não creio que o contexto seja de “desrespeito para com os artistas brasileiros em pleno tempo de expansão” como escrito em um post no blog do Canal, para mim essa proposta de Adriano Pedrosa soa mais como uma “armadilha estética” (não duchampiana!), do que um desrespeito a produção de arte brasileira.
Adriano Pedrosa, não é o único a polemizar o Panorama da Arte Brasileira que acontece no MAM de São Paulo desde 1969. Depois do Panorama de 2001 (com curadoria de Ricardo Basbaum, Ricardo Resende e Paulo Reis) todos os Panoramas que se prosseguiram nunca mais tiveram o mesmo impacto dentro do circuito de arte institucional e informal no Brasil.
Com a “polêmica-interna” que gerou a referida exposição em 2001 (uma “crise” no bom sentido), que na minha opinião, foi uma das melhores curadorias com o nome de Panorama da Arte Brasileira da última década, porque justamente estavam focados com o que estava ocorrendo na época, despontando outras práticas artísticas que não somente esse circulo de “visibilidade brasileira” e não se preocupando apenas em paradigmas e circuitos de mercado. (E nesse sentido a publicação – não catálogo – editada por Ana Paula Cohen, e a entrevista com Artur Barrio reforçaram a proposta justamente reafirmando outras práticas não padronizadas pela Instituição Museológica e o “Catálogo de Exposição”).
As outras tentativas partindo do talvez primeiro DES-Panorama do G. Mosquera começaram a decair e não conseguiram mais encontrar o sentido de se fazer este evento que comemora seus 40 anos em 2009. Ainda entre os Panoramas internacionais (Mosquera em 2003 e Pedrosa em 2009), teve a Curadoria de Felipe Chaimovich que ainda se preocupou em pesquisar por muitos estados do Brasil (in-situ), o que se produzia na época. Concordo também com o post (do link acima) de Juliana Burigo, Ligia Borba e Guy Amado, que simplesmente poderia se resolver o problema promovendo uma curadoria que não exatamente o tal “Panorama nanannnann”.
Também soa interessante essa indignação pela proposta de Adriano Pedrosa, pois justamente evidencia um problema maior que está por trás de tudo isso e que de alguma forma passa despercebido – a posição do MAM-SP que aceita tal proposta para o evento bienal de nome Panorama da Arte Brasileira.
Creio que essa coisa de utilizar o evento (pelo menos nos últimos 8 anos) que acontece desde 1969 até hoje com propostas querendo “renovar” o panorama da arte brasileira com artistas internacionais, é claramente um problema de Identidade da própria Instituição. Penso que os próprios diretores-presidentes e ou conselheiros, curadores do MAM-SP ou quem é que seja que administra essas “chamadas conceituais” para o Panorama, (como tb já dizia outro post), que deveriam responder por essa crise de identidade.
E ainda se falar que Programa de Residência é uma inovação (!), também não cabe mais nesses discursos. Nesse sentido concordo com Marco Paulo Rolla entre outros comentários, de propor realmente uma virada de conceito do que significa ainda hoje realizar um Panorama da Arte Brasileira no Brasil.
A emergência de se rever, discutir, questionar, esvaziar e modificar os princípios e sentidos de eventos como o Panorama, Bienal, Salões e etc, são essenciais.

As opções de atualização são infinitas, porque mesmo não pensar em programas de comissionamento a trabalhos, fomentando a produção de artistas brasileiros (neste sentido diga-se de alto e bom tom, não apenas os “artistas do mercado brasileiro”) para as edições bienais do Panorama (???).
Nesse sentido o projeto de Adriano Pedrosa realmente poderia ter outro contexto para refletir sobre o que ele propõe, não precisaria necessariamente evidenciar-se e aproveitar-se da “melodia institucional” em se intitular de Panorama da Arte Brasileira. Concordo também sobre as opiniões que se colocam sobre o questionamento do que é arte brasileira internacional por Daniela Labra: “É arte brasileira com penas de arara (Tropicália) ou arte brasileira com cara de Robert Morris?”, realmente essas confusões de continentes e nacionalismos são paradigmas delicados e a proposta como esta de Adriano Pedrosa (de se fazer o Panorama da Arte Brasileira Européia), ou mesmo esse último “Manifesto” de Bourriaud que tenta pensar outros paradigmas da arte sobre pontos de vistas duvidosos ao se falar generalizando, colocam em xeque e ás vezes impõe princípios conceituais e ações de curadores que não correspondem com situações específicas (“time specific X site specific” [!]) de circuitos diversos.

Desde a saída (emergencial combinada) de Ivo Mesquita e sua equipe, da direção do MAM-SP(-ITAÙ) de 2001, o Panorama da Arte Brasileira “balança”.
Porque não se comentou a curadoria do Panorama “Contraditório”[!] de Moacir dos Anjos, que na pouca informação, crítica e comentários que busquei nada diziam de tão inflamante como este..(!?) Neste ano da Curadoria do Moacir, tentei procurar várias vezes (google, canal, mapa, etc, etc, etc..) informações de pelo menos quem foram os artistas selecionados (!) e nem na página do próprio MAM-SP tinha o nome dos artistas!!!, mas quando vi uma parte de nomes tão conhecidos da “arte brasileira para exportação” (com a sequência da parceria para a ARCO de Galerias Brasileiras & Governo Federal, etc, etc, etc), perdia o interesse, porque para um sentido de PANORAMA, se desviava de um dado foco, se perdia a atenção de algo a mais do que vemos no mercado ou somente daquilo que circula nesse meio.

A situação que vemos da proposta de curadoria de Adriano Pedrosa, é um problema claro e evidente de uma necessidade das Instituições no Brasil, (seja do evento de nome Panorama da Arte Brasileira, seja do MAM-SP, seja da Fundação Bienal de SP, do MUBE, do MAM-RIO, do MASC, do MAC-PR, entre qualquer outro), de rever ações e operacionalizar de um modo coerente as demandas dos artistas e do público para a nova década que surge.
E nesse sentido, quando há uma brecha como esta da edição do Panorama da Arte Brasileira (de Europeus, como já citado) de 2009 ser realizado, perde-se uma oportunidade rica de investigar a produção artística do Brasil, sobre óticas e iniciativas ainda a serem desenvolvidas em suas diferentes re-adaptações e formatos (conceituais e administrativa).
O problema de mexer com essas iniciativas, é o grau de visibilidade que está contido nelas, pois essa “febre de status” (de artistas e curadores), muitas vezes desvia o contexto de se pensar a produção de arte brasileira.

Nesse sentido, falando neste contexto de DES-PANORAMAS, uma das (infinitas) questões Institucionais seria: como atuar sobre essas “plataformas de visibilidade” expandindo o formato e conceito de entre alguns Salões, Editais, Programas de Exposições, Panoramas e ou Bienais etc, etc, etc, etc, etc etc, etc (7vezes) ???

Curadoria e Mercado sem falácia

Publicado no site esferapublica, este texto levanta um questionamento interessante sobre a relação do curador com o mercado de arte. A autora incita os colegas curadores para que hajam de modo verdadeiro e ético, no sentido de assumirem de fato sua real relação com a inserção de um artista no circuito comercial. Somente assim, acredita, o curador poderá ter uma ação saudável com essa instância mercadológica. Estou de acordo.

Segue trecho do original em espanhol.

¿Por qué los curadores insisten en que su trabajo se realiza al margen del mercado? ¿Por qué insisten en aparentar una especie de pureza frente a movimiento económico del arte? Sobre todo cuando todos sabemos que no es así y menos en un mundo en el que todas las actividades están contaminadas por lo económico y lo comercial, o es que pervive una idea romántica y nostálgica del intelectual separado del mundanal ruido y las necesidades mundanas. Marcela Römer ataca un tema que parece tabú y exige la valentía de asumirlo en positivo.

“Curaduría y mercadeo es un tema actual, interesante y cuestionador. Estimados colegas: no se queden en el discurso romántico, porque ese lugar es fácil. Elaboren paradigmas de contemporaneidad para realmente “construir” discurso crítico. Uno de los objetivos éticos de un curador es ese, y justamente ese es uno de los que sí puede lidiar con el mercado.”

(segue…)

Museólogo por secretária no CAHO, RJ

Repasso a carta desta colega de àrea.  O CAHO deveria ser referência de centro de arte no Brasil “mas a sua estupidez não lhe deixa ver que eu te amo”…

+ + +

Caros amigos,

Comunico o que a Cultura no Brasil propõe para o futuro.

Diante da decisão lamentável da Secretaria das Culturas de extinguir o cargo de Museólogo do quadro do Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, quero tornar público que permaneci durante cinco anos no cargo de museóloga em contrato CLT (Outubro 2003- Fevereiro 2009) e fui destituída sob a alegação de que o cargo de museólogo
da instituição seria extinto. Segundo ofício enviado pelo Sr. Randal Farah de Oliveira Leão, Sub-Secretário de Gestão, para a empresa de Recursos Humanos que terceriza funcionários para os órgãos da Prefeitura do Rio de Janeiro, o cargo não foi apenas extinto ele foi tranformado em um cargo de secretária.
Perdi o emprego, mas não a indignação. O ato de extinguir a função de museólogo de uma Instituição Cultural da Prefeitura do Rio de Janeiro, ou seja uma instituição pública é um desrespeito a nossa classe. Como se não bastasse a falta de concurso público para a área e os poucos espaços para exercermos a profissão, o cargo de museólogo vem sendo substituído por diversas áreas, como arquivologia
, biblioteconomia e neste caso, secretariado.
Esta carta não é apenas uma reclamação ou um desabafo pessoal, nem mesmo é uma maneira de obter o meu emprego de volta. É sim um repúdio, um protesto contra os descasos que sofre a nossa profissão. Afinal, enquanto a classe dos teatros esbraveja contra a política cultural da atual Secretaria das Culturas, as outras “culturas” como Museus, Artes Plásticas, bibliotecas e etc se calam.
credito que consentir e calar-me diante destas decisões é decretar o fim da Cultura e da Museologia para o Brasil.
Quando será que a Museologia terá o seu verdadeiro espaço? E quando o profissional será indispensável à Cultura?

Atenciosamente,

Daniela Matera Lins

Corem 0686-I