Éder Oliveira, um Homem Amazônico (Éder Oliveira, an Amazonian Man)

REVISTA ZUM 15
Um homem amazônico
Éder Oliveira & Daniela Labra
Publicado em: 03 de janeiro de 2019

Um homem amazônico

Éder Oliveira (1983) é artista paraense. Recebeu o prêmio de arte Lingener, da Alemanha, em 2016, e o prêmio Pipa de Voto Popular em 2017.

Daniela Labra (1974) é curadora de artes visuais e crítica de arte.

Geraldo de Barros e a Fotografia

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Registros da pioneira exposição Fotoforma, de Geraldo de Barros, realizada em 1951 no MASP, com expografia de Lina Bo Bardi. Os documentos de época e quase 300 trabalhos do artista concreto são exibidos na mostra “Geraldo Barros e a Fotografia”, atualmente no IMS do Rio de Janeiro.

Fotografo, Logo Vivencio

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Ao chegar na exposição do escultor australiano Ron Mueck no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o visitante se surpreende com a apurada técnica do artista e com a multidão acotovelada para ver e fotografar os seus prodígios hiper-realistas. No grande salão, pessoas que até há pouco não sabiam quem era Mueck e muito menos o que acontecia no Museu, empunham câmeras e celulares para captar, vorazes, imagens dos trabalhos e selfies atropelando quem tenta apenas apreciar as obras.

Se o enorme público estreante no MAM é um fato novo e positivo, pessoas fotografando a si ou a conhecidos diante de trabalhos de arte já não são novidade. Dentro ou fora do espaço expositivo é fácil comprovar que câmeras digitais e smartphones não só popularizaram o ato fotográfico como fazem-no parecer um gesto necessário para desfrutar a vida. No caso de exposições, onde encontra-se lazer associado a reflexão e conhecimento por meio do contato sensível, intelectual e até físico do espectador com a obra, tento imaginar o que os visitantes desejam capturar com suas lentes e como essa mediação digital transforma a experiência estética in loco. Entendo que a natureza de muitas mostras tem apelo publicitário e espetacular, estimulando a incontinência fotográfica, mas observo que o excesso de registros substitui o processo, hoje difícil, de postar-se atentamente diante de um objeto artístico para apreendê-lo na sua forma e conteúdo. Afinal, uma obra de arte não se esgota na visão rápida. (Continua…)

*texto publicado em O Globo, em 5/05/2014

 

O banheiro como mote temático

Juan Antonio Molina é curador e crítico cubano baseado na Cidade do México, especializado em fotografia contemporânea com ênfase na produção latino-americana. Seu atual projeto chama-se El baño. La fotografía contemporánea entre lo público y lo privado”, e versa sobre imagens, muitas improváveis, feitas no ou a partir do cômodo onde prevalece a intimidade do corpo.

Abaixo segue uma foto da exposição com extrato da análise desta por  Molina.

 

Jorge Sáenz: Ducha en reclutamiento (de la serie Rompan filas)

“El libro Rompan filas es un proyecto ejemplar dentro de la historia reciente del fotodocumentalismo latinoamericano. A principios de la década de 1990 ese trabajo sirvió a la causa del movimiento social por la objeción de conciencia, que se resistía a la imposición del servicio militar obligatorio en Paraguay. El contenido del libro articula un discurso contra el militarismo y el patrioterismo en el contexto frágil y resentido de una sociedad post-dictatorial. Lo mejor de este proyecto es que sostiene su posición política contestataria con un ejercicio fotográfico de gran pulcritud y excelente factura. Jorge Sáenz demostró con esas fotos su extraordinario talento para trabajar la dimensión simbólica de las imágenes desde una práctica documental que se revela así, no sólo como registro de una realidad, sino como posicionamiento poético ante la imagen grotesca del poder”.

Continua em  http://paginaenblanco-juan.blogspot.com

A exposição abre dia 23 de Fevereiro no Museo Archivo de la Fotografia (MAF), D.F.

E agora com a palavra, a artista

Apesar do episódio da censura de Nan Goldin no Rio de Janeiro ter acalmado, as palavras da artista refletem sobre um mundo em desvio para a direita, apoiado por muito capital. E a arte? Parece que lhe estão impondo que se adeque às regras…

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Fotógrafa Nan Goldin, que teve mostra vetada pelo Oi Futuro, no Rio, fala sobre os limites da arte e o perigo representado pela ingerência do mercado no que é exibido
30 de novembro de 2011 | 20h 22

Roberta Pennafort/RIO

A fotógrafa norte-americana Nan Goldin já não sabe mais se vem ao Brasil no início de 2012 para aquela que será sua maior exposição por aqui. Está chocada com o veto do Oi Futuro, instituição que patrocina a mostra (agora transferida para o Museu de Arte Moderna da cidade), a fotos que mostram crianças “num ambiente acolhedor e amoroso” e que integram sua famosa série “A Balada da Dependência Sexual”, iniciada em 1976.

Nan Goldin disse estar chocada com o veto do Oi Futuro. A polêmica, reverberada por artistas e críticos no Facebook, se centrou nas imagens de crianças na cama com os pais, que estão sem roupa e se acariciam.

Em entrevista ontem à tarde, de Paris, por telefone, a artista foi além: falou dos limites da arte, do perigo de seu controle pelo mercado e de sua percepção do presente e do futuro.

O veto à sua mostra está tendo grande repercussão na comunidade artística do Brasil. Um dos pontos levantados diz respeito à ingerência das empresas privadas em questões artísticas. Você considera isso perigoso?

É perigoso. As grandes empresas são conservadoras por natureza. A política delas não é a mesma que nós artistas apoiamos. Em muitos países exposições são, em sua maior parte, financiadas por essas grandes empresas, o que pode ser um problema. É responsabilidade do artista lutar contra qualquer pressão que possa limitar sua liberdade de expressão. A censura começou a se tornar um problema enorme no fim dos anos 80, com Robert Mapplethorpe e Andres Serrano (artistas que enfrentaram problemas de financiamento por trabalharem com imagens consideradas indecentes). Foi aí que ficou claro que os que tinham o dinheiro tinham o poder de controlar o que estava sendo mostrado.

Então qual seria a solução?

Depois que a conscientização cresceu, por conta desses dois casos, os artistas se tornaram mais ativos politicamente, forçando museus a mudar os programas que excluíam pessoas de cor, mulheres e gays. Eu, por exemplo, me recusei a assinar um compromisso em Nova York em 1989 de não fotografar mais os gays e de não fazer qualquer tipo de trabalho voltado à sexualidade. Com isso, não recebi financiamento.

Por que razão, mais de 20 anos depois de sua primeira exibição, “A Balada” ainda provoca reações fortes assim, na sua opinião?

Mas não provoca, em lugar algum. Não tenho esse problema há muitos anos. O trabalho já foi aceito como uma obra de arte importante. Outras coisas aconteceram e eu fui censurada, mas “A Balada”, não.

Como você reagiu ao que houve agora no Oi Futuro?

Fiquei chocada. O Brasil é percebido como um país socialmente livre, de pessoas sem problemas com o corpo, então foi chocante.

Você pensa em não vir mais?

Penso. Ainda não decidi, não posso responder. O apoio da comunidade artística brasileira me tocou, e isso me dá vontade de ir. O que eu sei é que a exposição vai acontecer, em fevereiro. Iria em janeiro, mas não sei como me sinto sobre isso tudo.

O cancelamento suscitou a discussão sobre as fronteiras da arte. Essa questão ainda se justifica, a seu ver?

A arte deve empurrar as fronteiras, essa é a sua natureza, é uma das razões pelas quais a arte precisa existir. O papel da arte é questionar, seja ela conceitual, experimental ou política. Tem que ser radical, seja questionando a sociedade, a diferença de gêneros. Não deveria ser limitada por fontes de financiamento nem pelo mercado, nem ter de pensar no status quo. Mas tudo é limitado pela questão do dinheiro. Não é o que a arte deve ser. Se a arte é controlada pelo mercado, como parece ter sido o caso, ela se compromete, e isso tira sua integridade.
As fotos com as crianças são consideradas problemáticas, porque feririam o Estatuto da Criança e a Adolescente do Brasil. Ninguém me explicou até agora: do que trata a legislação?

É uma lei protetiva específica, que existe há 20 anos e que proíbe a exposição de menores a cenas tidas como pornográficas.

Uau, eu não sabia… Essa lei funciona? Numa sociedade com tantas crianças na rua, que têm de fazer de tudo para sobreviver? Eu já fui ao Brasil três vezes. Soube que houve um massacre pela polícia quando as crianças dormiam (chacina da Candelária, em 1993). Elas não estão recebendo apoio. Alguns artistas apoiam, como Carlinhos Brown, com seu projeto com música. Não faz qualquer sentido. Estão criando problema com fotos de crianças que são filhos de amigos meus há 20 anos, que estão num ambiente acolhedor e amoroso, onde há sexualidade, enquanto há crianças na rua, se prostituindo e fumando crack. Qual é o problema mais sério? Ninguém pode apontar uma foto minha em que a criança não sabia que estava sendo fotografada, ou que esteja sofrendo abuso.

Como você vê essas fotos hoje, que relação afetiva tem com estas imagens?

As pessoas retratadas se orgulham de fazer parte de “A Balada”. As crianças que hoje são adultas não se arrependem. Nenhuma delas. Uma ou outra pessoa se incomoda ao ver seu passado mostrado, e nesse caso não incluo mais no slide show. Antes de um livro, ligo para todos os que ainda estão vivos (vários morreram em decorrência da epidemia de Aids dos anos 80) para ter certeza de que eles querem estar no livro. A minha integridade é uma das coisas mais fortes da minha vida e no meu trabalho. É muito fácil explorar pessoas com a fotografia.

Para você, o que significa este episódio?

O mundo está regredindo. A tecnologia está tirando das pessoas as emoções reais. Não sei como isso se reflete nessa situação, mas vejo que o mundo é totalmente diferente daquele em que eu cresci. Que bom que eu estava viva nos anos 60, 70 e 80, porque isso significa que eu não cresci orientada por um computador.

Nas redes sociais, questiona-se o uso do termo “censura”.

Em inglês, a palavra é essa. Talvez não o seja no contexto brasileiro, ou da Argentina ou da Espanha, que tiveram ditaduras, talvez pareça exagerado. Mas para mim, que venho de uma sociedade supostamente livre e democrática, a palavra é exatamente essa. As pessoas estão olhando preto no branco, não estão vendo as nuances dessa história, o que é perigoso.

Os artistas estão ironizando o fato de o “censor” se chamar Oi Futuro.

É um pouco assustador. O futuro já parecia ruim o suficiente.

http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,cancelamento-de-exposicao-no-rio-deixa-artista-norte-americana-chocada,805090,0.htm

Nan Goldin tem projeto adiado e remanejado no Rio de Janeiro


Fotos: Nan Goldin

* Final feliz mas nem por isso isenta-se de reflexão o ocorrido: a exposição de Nan Goldin vai acontecer no mam-rj, com abertura em 13/02/2012 e patrocínio do Oi Futuro – porém ainda assim mantemos o texto abaixo pois o momento da cultura no Brasil merece ser discutido.

No Brasil da tecnocracia Dílmica, cada vez mais observamos projetos de arte patrocinados por grandes corporações, que por meio de descontos fiscais de leis de incentivo à cultura realizam exposições em nome da arte e de seu marketing. Isso poderia não ser de todo um problema não fosse o fato de que o investimento em artes tem sido mais e mais instrumentalizado e direcionado a projetos espetaculosos e acríticos, que evitem manchar o nome da instituição e também não venham a ferir o público. E o que seria exatamente este “ferir”?

Observamos que o espectador consumidor de produtos culturais vem sendo tratado de modo infantilizado, submetido a regras padronizantes que simplesmente esterilizam de ante-mão o que a arte tem como maior potência: a possibilidade de gerar reflexão crítica e discursos sobre o mundo controverso que habitamos.

Dentro dessa perspectiva esterilizante, o Oi Futuro, no Rio de Janeiro, instituição dedicada a projetos educativos e sem fins lucrativos (também pudera, a empresa mantenedora lucra com telefonia e tem isenção fiscal quando investe em cultura), acaba de vetar uma exposição de uma das artistas mais interessantes do final do Século XX, que é a fotógrafa Nan Goldin. A mostra iria acontecer em Janeiro de 2012, e sua supensão deveu-se ao temor de que a artista expusesse fotos de crianças junto a imagens de adultos em situações-limite.

Um jornalista me contou que a instituição havia vetado imagens de crianças nuas em princípio, e que a artista acatou. Porém, a censura se fez quando foi exigido que fotos de crianças vestidas também não integrassem a mostra. Diante disso, a perspicaz Nan Goldin sugeriu então colocar tarjas pretas sobre todas as fotos expostas, explicitando assim a ação censora institucional. Esta sugestão desagradou ao Oi Futuro que suspendeu a exposição.

A curadora independente e responsável pelo projeto, Ligia Canongia, afirmou em carta aberta que os curadores da instituição desconheciam o trabalho de Nan Goldin e que, ao verem as imagens duras – e humanas – da fotógrafa retiraram o projeto da agenda. Não ficou claro, no entanto, se o patrocínio também seria suspenso.

De certo, não conferi pessoalmente os fatos com o centro cultural, mas os jornais divulgaram tal versão hoje. De qualquer modo, houve um adiamento da exposição de Nan, aparentemente em nome de uma moral e de bons constumes que estão prá lá de abalados e caducos na contemporaneidade, o que só nos faz rir e lamentar este papelão.

O ocorrido nos leva a pensar realmente sobre a idiotização do público, a quem lhe é negado o direito de opinar e discutir algo que pode ser ou não polêmico. Em nome dessa certa ética e moral em franca crise, o indivíduo não tem mais livre arbítrio para decidir o que deseja apreciar ou não. Os poderes do capital e do Estado normatizam a vida privada e a saída parece ser mesmo afiliar-se a uma Igreja pentecostal e esperar a salvação do Messias com seu saco de presentes, pois pensar criticamente não é mais possível.

Na cidade que sofre uma reforma brutal para receber espetáculos desportistas em breve, e onde o custo de vida tornou-se estratosférico, notamos que a alienação é a melhor parte do jogo para os investidores. A maquiagem carioca não consegue lidar com os conflitos e crises da contemporaneidade, preferindo primeiro fazer calar.

Nan Goldin, que já expôs nas mais importantes instituições e mostras do mundo, não tem espaço nesta cidade onde o caos e a arbitrariedade imperam, posto que suas imagens são “chocantes”. Pois eu prefiro o choque da arte ao choque imposto pela ignorânica e a hipocrisia.

Viva Nan Goldin! Viva a humanidade de seus retratos dos excomungados pela “sociedade de bem” que se nega a ver beleza onde em princípio so há feiúra e decadência.

O ser humano é lindo mesmo em sua solidão e desespero. Essa é a mensagem de Nan.

Apropria̤̣o e cria̤̣o Рmen̤̣o honrosa no World Press Photo com imagens tiradas do Street View

Segue aqui esta matéria que dá uma interessante discussão sobre a questão do direito autoral e, principalmente, da apropriação e releitura dos objetos e contextos extraídos do mundo por um artista. Na prática, o fotógrafo atuou com Andy Warhol ao copiar caixas de sabão em pó e reproduzir o rótulo de sopas enlatadas para expor como fine art. Ele recontextualizou algo que circula livremente na internet de outra maneira.

No entanto, talvez o dado incômodo para quem está protestando por este profissional ter ganho um prêmio de fotojornalismo,  seja mesmo o fato de que sua obra não seja intencionalmente “arte”.

O fotojornalista documentou peculiaridades (ou gafes) cometidas pelo dispositivo eletrônico que escaneia cidades realizando, de fato, fotojornalismo; importando-se mais com o dado ético do registro do que com uma possível apropriação poética. Ainda que não seja artista, o prêmio foi merecido e é interessante perceber como os jurados desses eventos devem sempre estar abertos àquilo que quebra paradigmas – como foi este caso. Por que numa Bienal de Arte Contemporânea o trabalho teria ganho muitos prêmios, só que a intenção do autor era estar em outro lugar…

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Fotógrafo alemão recebe menção honrosa no World Press Photo com imagens tiradas do Street View.

Do Globo Online

RIO – Um fotógrafo alemão causou polêmica ao receber menção honrosa no maior prêmio internacional de fotojornalismo com uma sequência de imagens retiradas do Google Street View.

Michael Wolf submeteu quatro desses trabalhos no concurso e ganhou a menção na categoria Questões Contemporâneas com a série “A Series of Unfortunate Events”, sobre imagens inusitadas no serviço de mapas em três dimensões da Google. Críticos questionam se retirar imagens de uma página na internet é fotojornalismo.
Veja dez fotos que integram o trabalho

Ele explicou seu mérito em entrevista ao “British Journal of Photograph” :

– Eu usei a câmera sobre um tripé, fotografando a realidade virtual que eu via na tela. Eu tirei um arquivo real, não peguei uma reprodução da tela. Eu movi a câmera para frente e para trás de modo a pegar um corte exato, e é disso que são feitas minhas imagens. Elas não pertencem ao Google, porque eu estou interpretando o Google, estou me apropriando do Google. Se você pegar a história da arte, vai ver que trata-se de uma longa história de apropriação

Além de polêmica, a história também é irônica, já que os conterrâneos alemães do fotógrafo são os mais ferrenhos críticos da alegada invasão de privacidade promovida pelo Google Street View. Cerca de 224 mil alemães pediram que suas casas ficassem irreconhecíveis no programa antes de seu lançamento no país.

Segundo a organização do concurso, a menção se justifica porque a missão do World Press Photo “é encorajar altos padrões profissionais de fotojornalismo e promover a troca livre e irrestrita de informação”

Wolf disse que já esperava que a decisão de submeter um trabalho desse tipo ao World Press Photo seria polêmica.

– Nosso mundo está cheio de imagens. Temos que lidar com isso, fazer uma curadoria dessas imagens e incorporá-las ao nosso trabalho. Eu acho que foi uma decisão muito corajosa do World Press – afirmou.