Opinião 65: 50 anos depois

WESLEY DUKE LEE_Crédito Sergio Guerini (1)
Wesley Duke Lee. Déc. de 60. Foto: Sérgio Guerini

Há exatos 50 anos, entre 12 de agosto e 12 de setembro de 1965, o Bloco Escola do Museu de Arte Moderna recebia a exposição “Opinião 65”, idealizada pelo marchand Jean Boghici com a organização da crítica Ceres Franco. A coletiva reunia 29 artistas entre brasileiros, europeus e argentinos, incluindo jovens que representavam uma nova linha de frente estética, conceitual e política nas artes do país. O evento exibia obras contestatórias viscerais como as assemblages de Antonio Dias aos 21 anos, as peças irônicas e politizadas de Rubens Gerchman e o inédito – hoje icônico – Parangolé de Hélio Oiticica, entre outros que delineavam a vanguarda de então.

Para comemorar o meio século deste acontecimento, a Pinakotheke Cultural, em Botafogo, traz a mostra “Opinião 65: 50 anos depois”, sob a curadoria de Max Perlingeiro, procurando resgatar a memória e o clima de experimentação e engajamento plástico que se instaurava no momento, em diálogo com processos artísticos e discussões nas artes pelo mundo, em torno de uma nova figuração. A exposição conta com 59 obras, sendo 17 trabalhos que estiveram na mostra original, e apresenta vídeos-documentários (um deles feito especialmente para esta ocasião) e fotografias, réplicas de manuscritos de Oiticica e textos de jornais entre outros documentos. Embora o local seja algo sofisticado demais para transmitir com contundência o ambiente de ruptura evocado em 1965, os trabalhos expostos, datados da década de 1960, se mantiveram pulsantes em sua força plástica e verve política, causando surpresa quando relembramos da censura que começava a reinar por estas praias naqueles tempos pós-Golpe Militar. Afinal, apesar de antigas, no fundo são obras de jovens artistas preocupados em discutir sua sociedade e o que entendiam como arte contemporânea há 50 anos.

Perlingeiro esteve 1 ano dedicado à pesquisa e o resultado é um conjunto de trabalhos significativos para a compreensão não apenas de um fato, mas de um momento histórico do país e nossa tenra história da arte. Além dos já citados, vêem-se obras raras de Gastão Manoel Henrique, Waldemar Cordeiro, Wesley Duke Lee, Juan Genovés, Ivan Serpa e outros. A museografia traz detalhes como fragmentos de textos críticos da época plotados ao lado das obras, que contextualizam o modo como era recebido criticamente o artista. Estes e demais elementos dão o cenário de outrora e fazem a visita instigante, ainda que só uma parte dos trabalhos expostos tenha de fato participado de “Opinião 65”.

“Opinião 65: 50 anos depois” tem desdobramento no MAM curado por Luis Camillo Osório, com obras dos anos 1960 do acervo do Museu e da Coleção Gilberto Chateaubriand, incluindo três peças presentes no evento original. O MAM tem natural afinidade com a exposição, acolhendo em casa os bons trabalhos históricos, e a seleção traz peças bastante vistas como as de Gerchman e Roberto Magalhães, e outras potentes e menos conhecidas como “Objeto Popular” (1966), de Pedro Escosteguy. Além disso, os documentos de época, em especial críticas e resenhas de jornais, e uma seleção de cartazes de filmes dos anos 1960, da coleção da Cinemateca, são ponto alto. Em ambos os locais é possível assistir ao breve documentário realizado pela Pinakotheke Cultural, contudo no MAM as condições acústicas são menos favoráveis. Um destaque é o filme “Vida Pública” (1967), com roteiro de Escosteguy, onde se assiste a cena e a discussão de artes de então. “Opinião 65: 50 anos depois”, em seus dois blocos, é uma mostra de cunho histórico sobre os passos da Nova Objetividade brasileira, e faz refletir acerca das relações entre arte, experimentação e engajamento ontem e hoje.

Porta Estandarte de Hélio Oiticica com passista da mangueira, 1965. Arquivo Projeto HO
Bandeira-estandarte de Hélio Oiticica com passista da mangueira, 1965. Arquivo Projeto HO

 

 

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