Apropria̤̣o e cria̤̣o Рmen̤̣o honrosa no World Press Photo com imagens tiradas do Street View

Segue aqui esta matéria que dá uma interessante discussão sobre a questão do direito autoral e, principalmente, da apropriação e releitura dos objetos e contextos extraídos do mundo por um artista. Na prática, o fotógrafo atuou com Andy Warhol ao copiar caixas de sabão em pó e reproduzir o rótulo de sopas enlatadas para expor como fine art. Ele recontextualizou algo que circula livremente na internet de outra maneira.

No entanto, talvez o dado incômodo para quem está protestando por este profissional ter ganho um prêmio de fotojornalismo,  seja mesmo o fato de que sua obra não seja intencionalmente “arte”.

O fotojornalista documentou peculiaridades (ou gafes) cometidas pelo dispositivo eletrônico que escaneia cidades realizando, de fato, fotojornalismo; importando-se mais com o dado ético do registro do que com uma possível apropriação poética. Ainda que não seja artista, o prêmio foi merecido e é interessante perceber como os jurados desses eventos devem sempre estar abertos àquilo que quebra paradigmas – como foi este caso. Por que numa Bienal de Arte Contemporânea o trabalho teria ganho muitos prêmios, só que a intenção do autor era estar em outro lugar…

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Fotógrafo alemão recebe menção honrosa no World Press Photo com imagens tiradas do Street View.

Do Globo Online

RIO – Um fotógrafo alemão causou polêmica ao receber menção honrosa no maior prêmio internacional de fotojornalismo com uma sequência de imagens retiradas do Google Street View.

Michael Wolf submeteu quatro desses trabalhos no concurso e ganhou a menção na categoria Questões Contemporâneas com a série “A Series of Unfortunate Events”, sobre imagens inusitadas no serviço de mapas em três dimensões da Google. Críticos questionam se retirar imagens de uma página na internet é fotojornalismo.
Veja dez fotos que integram o trabalho

Ele explicou seu mérito em entrevista ao “British Journal of Photograph” :

– Eu usei a câmera sobre um tripé, fotografando a realidade virtual que eu via na tela. Eu tirei um arquivo real, não peguei uma reprodução da tela. Eu movi a câmera para frente e para trás de modo a pegar um corte exato, e é disso que são feitas minhas imagens. Elas não pertencem ao Google, porque eu estou interpretando o Google, estou me apropriando do Google. Se você pegar a história da arte, vai ver que trata-se de uma longa história de apropriação

Além de polêmica, a história também é irônica, já que os conterrâneos alemães do fotógrafo são os mais ferrenhos críticos da alegada invasão de privacidade promovida pelo Google Street View. Cerca de 224 mil alemães pediram que suas casas ficassem irreconhecíveis no programa antes de seu lançamento no país.

Segundo a organização do concurso, a menção se justifica porque a missão do World Press Photo “é encorajar altos padrões profissionais de fotojornalismo e promover a troca livre e irrestrita de informação”

Wolf disse que já esperava que a decisão de submeter um trabalho desse tipo ao World Press Photo seria polêmica.

– Nosso mundo está cheio de imagens. Temos que lidar com isso, fazer uma curadoria dessas imagens e incorporá-las ao nosso trabalho. Eu acho que foi uma decisão muito corajosa do World Press – afirmou.

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