Mostra de Osmar Dillon no Rio de Janeiro

Osmar Dillo, Déc. 1970. Foto: Pat Kilgore
“Eu Tu”. Déc. 1970.  Foto: Pat Kilgore

O Centro de Artes Hélio Oiticica, na Praça Toradentes, Centro do Rio de Janeiro, apresenta uma singela exposição do arquiteto, artista e poeta Osmar Dillon (Belém, 1930- RJ, 2013) cuja obra integrava poesia e pintura resultando em trabalhos categorizados como livros-poemas e não-objetos verbais. Vivendo no Rio na época da eclosão do Neoconcretismo, participou das Exposições de Arte Neoconcreta de 1960 e 1961, fundamentais para os posteriores desenvolvimentos artísticos brasileiros. Embora tenha se ligado ao movimento e estado presente nestes eventos Osmar Dillon, que parece ter sido um homem discreto, não alcançou a mesma notoriedade dos colegas Lygia Clark, Lygia Pape e Hélio Oiticica, ou Ferreira Gullar, cuja obra poética-plástica veio acompanhada de um discurso conceitual sofisticado que gerou a “Teoria do não-objeto” (1960).

Esta exposição procura contribuir no reposicionamento da obra de Dillon na história da arte brasileira do século XX, apoiando-se em uma pesquisa correta e reunindo trabalhos e projetos executados entre 1960-73, sendo alguns praticamente inéditos. Como aponta a curadora Izabela Pucu, as obras reunidas mostram o interesse de Dillon na relação entre palavra e visualidade. A curadoria, construída em parceria com o companheiro de vida do artista, Roberto Feitosa, dá ao conjunto um ar sutilmente amoroso e despojado, evidenciado logo no início do percurso com uma carta de Feitosa sobre/para Dillon, datilografada em papel amarelado e emoldurada. Ali ficamos sabendo que o artista era um homem muito criativo, de bons amigos e reservado, desinteressado em self-marketing e networking – o que explicaria de certo modo a pouca visibilidade que sua obra recebeu nas últimas décadas.

A exposição, que é curta, tem trabalhos formalmente curiosos, agradáveis e bem literais no sentido de se quererem entender como literatura, imagem e desenho. Dillon, formado em arquitetura em 1954, testemunhou o desenvolvimento da arte concreta e do design no Brasil, e tais referências são marcantes no conjunto de não-objetos e livro-poemas selecionados. Fica claro que estas obras tridimensionais feitas em madeira, papel, ferro, espelho ou acrílico, participativas ou não, expressam imagens que se completam pela matéria e sua forma, em uma pesquisa artística consonante com discursos da arte dos anos 1960-70. Bons exemplos são a escultura-poema-objeto Arte e Sopro (1960-1961) e o totem Boca-Eco/Sexo-Ovo (1970). É possível tocar em vários dos trabalhos, com e sem a orientação de um monitor, sendo essencial para a fruição dos livros-poema especialmente.

A mostra termina em uma sala grande com alguns desenhos e uma tela da série Devorantes, de 1969, todos de inspiração surrealistas, que não chegam a despertar grande interesse por aparentarem ser uma amostra muito pequena do que foi uma grande pesquisa do artista. Neste espaço também se encontram os desenhos/projetos da série Estudo para um Monumento Vivencial I, II e III (1961-1970) que dialogam de modo complexo com o horizonte e a arquitetura da recém inaugurada Brasília. Em uma parede, documentos e artigos de jornal ajudam a contar a trajetória de Dillon entre os anos 1960-70, assim como um pouco do cenário da arte de vanguarda do período. Ao lado desses registros, quinze poemas do artista, datilografados em papel amarelado e emoldurados, encerram o percurso de modo tocante. São composições muito simples e ritmadas, que de certa maneira concentram o pensamento que dá corpo aos trabalhos tridimensionais. Finda a visita fica a sensação de que Osmar Dillon ainda tem muito para ser estudado e exibido, sendo este só um primeiro passo, pequeno e importante, para uma revisão mais ampla de sua obra poética.

"Arte e Sopro" (1960-61) Foto: Pat Kilgore
“Arte e Sopro” (1960-61)
Foto: Pat Kilgore

* Publicado em Jornal O Globo, Segundo Caderno, 16/03/2015

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