28ª Bienal: ruídos brancos

No sábado passado encerrou-se a 28ªBienal, deixando muitos questionamentos sobre a sua eficácia enquanto exposição de arte e manifesto contra um padrão instituído de modelo expositivo espetacular que pulula mundo afora, e deixa tudo com cara de mercadoria e mercadão. A última edição da Bienal internacional de São Paulo também pretendia criticar as bases deficientes da gestão da Fundação Bienal que justamente tem colaborado para que a instituição haja perdido parte de seu compromisso sócio-cultural em mei a escândalos de corrupção e má utilização de verba pública.  A proposta da Bienal era moderna há 50 anos e hoje está defasada, gasta e afastada da sociedade como um todo.

Sobre esta exposição em si, ao contrário do que ouvi falar incessantemente de artistas e apreciadores da arte contemporânea, o vazio da Bienal (que nunca foi proposta curatorial de fato, mas um apelido dado pela mídia e críticos)  não me pareceu assim de fato tão… vazio. Houve talvez uma opção por um formato de exposição mais ‘clean’ e que valorizasse tempos alongados e silêncios, isto é, o que uma Bienal atualmente não tem: espaço para respirar. Porém, conceitualmente a idéia pareceu funcionar melhor do que na prática, uma vez que a experiência ganhou uma densidade difícil de ser permeada pelo espectador comum, que apenas quer ver uma “exposição de arte”.

No dia 4/12 ocorreu um debate na Bienal para fazer um balanço do evento. Ali,  junto com a co-curadora Ana Paula Cohen, a coordenadora dos debates Luisa Duarte e o crítico Luis Camillo Osório, o curador-chefe Ivo Mesquita declarou que esta Bienal foi encarada pela curadoria mais como uma exposição simplesmente, que pretendia refletir sobre a condição das Bienais no mundo e seus excessos negando, portanto, o pomposo status dado a uma Bienal. Mas, justamente por tentar trazer para o plano do ‘simples’ um evento de dimensões nacionais e que gera muita expectativa, o sentimento conseguido foi de decepção e alguma chateação para muita gente que não logrou penetrar na proposta de questionamento sobre um modelo desgastado.

Infelizmente, a chateação cegou muitos daqueles que poderiam ter contribuído para esclarecer a proposta da curadoria e envolver o público de modo que pudessem refletir com os curadores. Isso não ocorreu e a adesão ao projeto foi pequena. De certo, o modelo expositivo pensado pela curadoria se afastava da noção de uma exposição convencional e aproximava-se do que poderia ser um festival: programações de vídeos que mudavam a cada semana (vídeos incríveis, aliás), performance artísticas, de dança, musicais, e muito debates numa sequência de 23 seminários que discutiam arte e políticas da arte, além das prórpias bienais e seus modelos, principalmente a Bienal de São Paulo em seus mais de 50 anos de vida.

O vão do segundo andar deixado vazio pelos curadores, foi o mote mais polêmico. Talvez por não ter sido obra de algum artista, mas um projeto da curadoria, símbolo do poder autoritário que irrita e seduz tantos atores do meio da arte. Admitindo que cada experiência em arte é uma coisa única, quero registrar aqui que ao entrar no espaço vazio e gigante não senti melancolia nem raiva por achar que o espaço pudesse estar sendo “sub-utilizado”. Ao contrário, senti toda a potência daquele lugar e das minhas memórias do que um dia eu havia sentido e vivido ali. Pude perceber como outras edições recentes da Bienal haviam entulhado o espaço e também me lembrei de alguns trabalhos que ali estavam na 27 ª Bienal. Ao invés de silêncio, eu ouvi muito barulho, vindo de meus pensamentos…

Talvez (mais um…), o pecado desta Bienal – que deveria ter sido dádiva – era exigir muita disposição de seus espectadores, muito conhecimento de causa, tempo muito longo para estar ali, muitas visitas, muita leitura, uma dedicação devotada. Porém, a vida contemporânea no mundo espetacularizado e capitalista que torna as Bienais agentes do mercado como as feiras de arte, não deixa tanto tempo livre para quem gostaria de estar mais livre para refletir sobre tudo isso.

Esta bienal vai ficar conhecida como a do Vazio, mas também como a do “não vi e não gostei”. Faltou quorum disposto a ver e pensar.

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