brasil_cuba

Relato da experiência recente da midia-ativista e criativa Tati Wells (não vou chamá-la de artista por que talvez ela não goste) em Cuba, onde foi para fazer trabalhos de ajuda humanitária e cultura.  O relato é um alerta, apesar de não trazer grandes novidades.

“Em setembro de 2008 passei quase 40 dias em Cuba. A minha primeira noite foi na casa de Liz & Jac que conheci através do projeto desislaciones, de rosa. Foi nessa casa que tive os primeiros contatos com a realidade de Cuba. No dia seguinte à minha chegada, ao passear com Jac no Malecón, um guarda nos pára pedindo identificação. A noite já não podia mais dormir em sua casa pois havia perigo de aparecer alguma força policial atrás deles e de mim, já que receber visita na casa de um cubano é ilegal, mesmo um parente. Foi nesse incidente inicial que percebi a bolha em que estava, a paradoxal Cuba, terra de revolução e de vigilância, de utopismos e controle social, de comunismo e ilegalidade, de analfabetismo proibido, casa para todos, cultura de ponta e crise alimentar.

Durante a convivência com Liz & Jac também fiquei sabendo da censura à trabalhos e conversamos sobre a dificuldade de uma colaboração sobre arte e tecnologia em um contexto tecnológico praticamente inexistente – onde peças são caríssimas e impossívels de achar (se você não pede a alguém que venha de fora sujeitando-se a pagar as altíssimas taxas alfandegárias e tendo como risco a perda do mesmo). Justamente por esta razão, não instalamos linux na mimosinha que tinham em casa, não havia memória suficiente. A internet é proibida nas casas pessoais e apenas 3 ou 4 espaços públicos em toda cidade de Havana dispõem do caríssimo acesso (por volta de 7 dolares a hora por uma conexão lentíssima). Todos os meios de comunicação são estatais e pertencem ao Partido Comunista, jornais culturais alternativos duram no máximo 2 anos (como uma experiência de suplemento artístico que Jac e Liz fizeram)  e a comunicação por computadores se resume a uma grande Intranet de e-mails compartilhados por professores, educadores, médicos etc, que dividem algumas informações previamente escolhidas pelo “grande servidor”.

Em uma oficina de 3 dias e mais outros esforços pessoais em diferentes espaços e ocasiões, fizemos uma proposta de projeto em comum, que une a obsolescência tecnológica brasileira que a cada ano renova sua imensa máquina estatal por exemplo, à expertise dos recicladores cubanos (cacharreros) que re-aproveitam todo material existente, preservando maquinário, móveis e residências centenárias em meio à precariedade de suas condições. O trabalho em software livre realizado por brasileiros e brasileiras também têm muito a contribuir com o contexto contra-hegemônico cubano. Vamos ver se é possível dar continuidade à colaboração. Idéias são mais do que bem-vindas!”

O texto com fotos está em: http://midiatatica.info/desislaciones_brasil_cuba.html

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